quinta-feira, 26 de julho de 2012

A revolta: em palavras, ou com elas


Eu adoro escrever crônicas para o www.oestadorj.com.br,  a única coisa ruim de se escrever para um meio “oficial” é que você não pode sair falando, ou melhor, escrevendo, tudo o que pensa. As palavras têm que ser medidas, não podem ser ofensivas a ninguém e o cuidado com o português tem que ser imenso. Pois é exatamente sobre isso que foi o meu último texto, que foi publicado neste veículo. Nele eu falo, o quão estão cometendo assassinatos com a nossa língua.

No texto de lá, eu dei uma amenizada na minha “raiva” e achei que ficaria meio chato se eu explicasse de onde e como se iniciou a minha “revolta”. Ela veio de dois lugares: sendo editora de estagiários de jornalismo e desde que comecei a trabalhar numa editora, fazendo principalmente revisão de livros. A partir desses dois momentos, que foram distintos, o meu contato com a ignorância “portuguesística” aumentou consideravelmente. Até criei um documento intitulado “Pérolas de português”, para abrir se eu estiver meio  down e querendo rir um pouco.  

Na editora, começo pelos textos que chegam. Dá vontade de falar para muitos: “Meu querido (a), por que ao invés de tentar ser escritor(a), você não tenta outra coisa? Qualquer outra coisa? Porque isso aqui tá uma vergonha…” . 

No entanto, venho aprendendo com o meu chefe que é melhor engolir sapo e não dizer nada, e dependendo do autor, deixar tudo errado como está, porque eles (as) não aceitam críticas. Como em qualquer outro mercado, há uma guerra de egos imensa. Ainda mais se soubessem que quem está por trás da revisão do livro é uma pirralha (comparado à idade que alguns têm) de pouco mais de um metro e meio….

É lógico que eu cometo erros de português, mas me esforço para encontrar sinônimos e não repetir a mesma palavra três vezes em um parágrafo de duas linhas, verifico dicionários, leio o máximo que eu posso, estou sempre tentando tirar dúvidas e aprender, tudo para que estes erros sejam cada vez menores. Mas infelizmente não é isso que encontro, principalmente nos jovens.

Na editora, recebemos propostas para fazermos parcerias com blogs. Aí sim, quando os vejo, a vontade de me suicidar é instantânea. Por que, meu deus, pré ou adolescentes que decidem sei lá por que razão, copiar a sinopse de um livro e escrever que ele é “muito maneiro” ou “muito chato”, se consideram resenhadores? E como eles têm coragem de postar tanta coisa sem uma revisãozinha? 

Quando essas propostas/pedidos aparecem, eu respondo corrigindo de cabo a rabo alguma resenha do blog e digo com outras palavras mais amenas: quando você aprender a escrever, volte a entrar em contato conosco. 

Isso não quer dizer que não existam blogs sensacionais, com resenhas ótimas feitas por adolescentes, mas é a minoria…

Quanto aos estagiários de jornalismo, é um exercicio de paciência quase diário. Há uns que são muito bons, parece que nasceram para ser jornalistas, mas tem outros que… Eu já recebi matérias, que foram puro “copiar e colar”. E a pessoa era tão… tão… sei lá o quê, tadinha, que colou duas vezes o mesmo trecho em uma só matéria. Aí, tá de sacanagem, né? 

E a que copiou uma mensagem do Facebook para exemplificar que tinha uma ONG contra animais na Rede Social? Sério, eu não sabia se ria ou se chorava. Bom, os exemplos são infinitos, daria uma boa noite de gargalhadas. 

Coloco aí embaixo a resenha que fiz para um livro da editora. Como estou divulgando essa resenha em outros sites, quero colocá-lo em meu blog para tentar evitar futuros plágios. Sei que colocá-la aqui não garante isso, mas é só para que saibam que fui eu que escrevi. Não sei se está boa ou ruim, mas é minha, rsrsrs.
Matta, Luis Eduardo. As Bem Resolvidas (?): Quem manda aqui sou eu!. Rio de Janeiro : Vermelho Marinho, 2011. 200p. il.

O livro é o primeiro de uma série que promete deixar muitos jovens leitores viciados na saga de Isa, Alê e Chris. Elas são bonitas, ricas e estudam em um ótimo colégio. Suas rotinas consistem em ir à escola, fazer compras e beber prosecco no Terraço do Grand Hotel Alfa, no coração de Ipanema. Ou seja, a primeira impressão é de que são garotas fúteis. E a quantidade de bebida que tomam sem nem mesmo terem completado 18 anos, pode assustar pais e educadores. No entanto, no decorrer da leitura essa suposta idéia inicial é rapidamente desmistificada. Apesar de, aparentemente as três adolescentes terem uma vida perfeita, passam por problemas familiares, amorosos e até conflitos na escola.

Através da abordagem de questões como estas, o livro pode suscitar nos leitores uma postura crítica em relação a temas como álcool na adolescência, famílias desestruturadas e bullying, sempre aliados à ideia de que nem sempre dinheiro é sinônimo de felicidade plena.

Apresentando o dia a dia dessas meninas, autênticas cariocas da Zona Sul, Luis Eduardo Matta, constrói no imaginário de seu público leitor todo o cenário do Rio de Janeiro. Para os que vivem na cidade, torna-se prazerosa e divertida a identificação com lugares, bares e restaurantes famosos, citados com nomes fictícios. Muito embora, também possa aguçar a curiosidade do leitor não-carioca, fazendo-o pensar se um “Terraço Alfa” existe de verdade e se meninas “descoladas” fazem o mesmo que Cris, Alê e Isa.

Com uma linguagem bem própria aos dos adolescentes, usando termos como “tipo assim”, o livro envolve o leitor com suas personagens, mantendo-o de tal forma preso à leitura, que mesmo 200 páginas, não são empecilho para se seguir acompanhando a história.

Luis opta por essa linguagem porque é adepto da popularização da literatura. Sendo signatário do Manifesto do Grupo Silvestre, o autor acredita que uma linguagem simples, tira o peso do livro como algo chato e obrigatório, tornado-o prazeroso, possibilitando que seja encarado como mais uma atividade de entretenimento.

Não é só a linguagem no entanto que prende o leitor, mas também a identificação com situações atuais, como por exemplo a rapidez com que notícias se espalham na era da Internet, namoros sanfonas como o de Alê e PH, que não conseguem se acertar devido ao ciúme doentio do rapaz; desejo de liberdade, expresso na vontade de Isa de ir para a escola de ônibus, ao invés de com seu motorista; paixões quase platônicas e timidez, demonstrados através do encantamento de Isa por Rogério, o aluno novo e tímido da escola; preconceitos dissimulados opondo os bons e os maus, como é o caso da rixa entre Bu Campello e as inseparáveis amigas. Bu Campello tem suas seguidoras, não faz parte do trio e veio de uma família não tão abastada, mas quando se tornou emergente, adotou como meta espezinhar as três patricinhas do colégio. Para tanto, põe em prática projetos mirabolantes que por darem sempre errado, divertem, assim como os planos diabólicos e revides das três amigas.

Sem ilustrações, porque afinal de contas, isso é coisa de criança e seria o “maior mico”, mas com uma capa rosa e um desenho que já até gerou discussões, sendo visto por alguns como insinuante demais (pernas de mulheres com salto alto e usando meia-arrastão) para a faixa etária a que se propõe, o livro vale a pena não só para leitoras, mas para meninos interessados em conhecer um pouco mais sobre o universo feminino. Assim como é interessante para pais e educadores entenderem os conflitos pelos quais seus filhos e alunos passam. Além, é claro, de terem a oportunidade de voltarem um pouquinho no tempo.