Eu adoro escrever crônicas para o www.oestadorj.com.br, a única coisa ruim de se escrever para um meio “oficial” é que você não pode sair falando, ou melhor, escrevendo, tudo o que pensa. As palavras têm que ser medidas, não podem ser ofensivas a ninguém e o cuidado com o português tem que ser imenso. Pois é exatamente sobre isso que foi o meu último texto, que foi publicado neste veículo. Nele eu falo, o quão estão cometendo assassinatos com a nossa língua.
No texto de lá, eu dei uma
amenizada na minha “raiva” e achei que ficaria meio chato se eu explicasse de
onde e como se iniciou a minha “revolta”. Ela veio de dois lugares: sendo
editora de estagiários de jornalismo e desde que comecei a trabalhar numa
editora, fazendo principalmente revisão de livros. A partir desses dois
momentos, que foram distintos, o meu contato com a ignorância “portuguesística”
aumentou consideravelmente. Até criei um documento intitulado “Pérolas de
português”, para abrir se eu estiver meio down e querendo rir um
pouco.
Na editora, começo pelos textos
que chegam. Dá vontade de falar para muitos: “Meu querido (a), por que ao invés
de tentar ser escritor(a), você não tenta outra coisa? Qualquer outra coisa?
Porque isso aqui tá uma vergonha…” .
No entanto, venho aprendendo com
o meu chefe que é melhor engolir sapo e não dizer nada, e dependendo do autor,
deixar tudo errado como está, porque eles (as) não aceitam críticas. Como em
qualquer outro mercado, há uma guerra de egos imensa. Ainda mais se soubessem
que quem está por trás da revisão do livro é uma pirralha (comparado à idade
que alguns têm) de pouco mais de um metro e meio….
É lógico que eu cometo erros de
português, mas me esforço para encontrar sinônimos e não repetir a mesma
palavra três vezes em um parágrafo de duas linhas, verifico dicionários, leio o
máximo que eu posso, estou sempre tentando tirar dúvidas e aprender, tudo para
que estes erros sejam cada vez menores. Mas infelizmente não é isso que encontro,
principalmente nos jovens.
Na editora, recebemos propostas
para fazermos parcerias com blogs. Aí sim, quando os vejo, a vontade de me
suicidar é instantânea. Por que, meu deus, pré ou adolescentes que decidem sei lá
por que razão, copiar a sinopse de um livro e escrever que ele é “muito maneiro”
ou “muito chato”, se consideram resenhadores? E como eles têm coragem de postar
tanta coisa sem uma revisãozinha?
Quando essas propostas/pedidos
aparecem, eu respondo corrigindo de cabo a rabo alguma resenha do blog e digo
com outras palavras mais amenas: quando você aprender a escrever, volte a
entrar em contato conosco.
Isso não quer dizer que não
existam blogs sensacionais, com resenhas ótimas feitas por adolescentes, mas é
a minoria…
Quanto aos estagiários de
jornalismo, é um exercicio de paciência quase diário. Há uns que são muito
bons, parece que nasceram para ser jornalistas, mas tem outros que… Eu já
recebi matérias, que foram puro “copiar e colar”. E a pessoa era tão… tão… sei
lá o quê, tadinha, que colou duas vezes o mesmo trecho em uma só matéria. Aí,
tá de sacanagem, né?
E a que copiou uma mensagem do
Facebook para exemplificar que tinha uma ONG contra animais na Rede Social?
Sério, eu não sabia se ria ou se chorava. Bom, os exemplos são infinitos, daria
uma boa noite de gargalhadas.
Coloco aí embaixo a resenha que
fiz para um livro da editora. Como estou divulgando essa resenha em outros
sites, quero colocá-lo em meu blog para tentar evitar futuros plágios. Sei que
colocá-la aqui não garante isso, mas é só para que saibam que fui eu que escrevi.
Não sei se está boa ou ruim, mas é minha, rsrsrs.
Matta, Luis Eduardo. As Bem
Resolvidas (?): Quem manda aqui sou eu!. Rio de
Janeiro : Vermelho Marinho, 2011. 200p. il.
O livro é
o primeiro de uma série que promete deixar muitos jovens leitores viciados na
saga de Isa, Alê e Chris. Elas são bonitas, ricas e estudam em um ótimo colégio.
Suas rotinas consistem em ir à escola, fazer compras e beber prosecco no Terraço do Grand Hotel Alfa,
no coração de Ipanema. Ou seja, a primeira impressão é de que são garotas
fúteis. E a quantidade de bebida que tomam sem nem mesmo terem completado 18
anos, pode assustar pais e educadores. No entanto, no decorrer da leitura essa
suposta idéia inicial é rapidamente desmistificada. Apesar de, aparentemente as
três adolescentes terem uma vida perfeita, passam por problemas familiares,
amorosos e até conflitos na escola.
Através da
abordagem de questões como estas, o livro pode suscitar nos leitores uma
postura crítica em relação a temas como álcool na adolescência, famílias
desestruturadas e bullying, sempre
aliados à ideia de que nem sempre dinheiro é sinônimo de felicidade plena.
Apresentando
o dia a dia dessas meninas, autênticas cariocas da Zona Sul, Luis Eduardo
Matta, constrói no imaginário de seu público leitor todo o cenário do Rio de Janeiro.
Para os que vivem na cidade, torna-se prazerosa e divertida a identificação com
lugares, bares e restaurantes famosos, citados com nomes fictícios. Muito
embora, também possa aguçar a curiosidade do leitor não-carioca, fazendo-o
pensar se um “Terraço Alfa” existe de verdade e se meninas “descoladas” fazem o
mesmo que Cris, Alê e Isa.
Com uma
linguagem bem própria aos dos adolescentes, usando termos como “tipo assim”, o
livro envolve o leitor com suas personagens, mantendo-o de tal forma preso à
leitura, que mesmo 200 páginas, não são empecilho para se seguir acompanhando a
história.
Luis opta
por essa linguagem porque é adepto da popularização da literatura. Sendo
signatário do
Manifesto do Grupo Silvestre, o autor acredita que uma linguagem simples, tira
o peso do livro como algo chato e obrigatório, tornado-o prazeroso,
possibilitando que seja encarado como mais uma atividade de entretenimento.
Não é só a
linguagem no entanto que prende o leitor, mas também a identificação com
situações atuais, como por exemplo a rapidez com que notícias se espalham na
era da Internet, namoros sanfonas como
o de Alê e PH, que não conseguem se acertar devido ao ciúme doentio do rapaz;
desejo de liberdade, expresso na vontade de Isa de ir para a escola de ônibus,
ao invés de com seu motorista; paixões quase platônicas e timidez, demonstrados
através do encantamento de Isa por Rogério, o aluno novo e tímido da escola; preconceitos
dissimulados opondo os bons e os maus, como é o caso da rixa entre Bu Campello
e as inseparáveis amigas. Bu Campello tem suas seguidoras, não faz parte do
trio e veio de uma família não tão abastada, mas quando se tornou emergente,
adotou como meta espezinhar as três patricinhas do colégio. Para tanto, põe em
prática projetos mirabolantes que por darem sempre errado, divertem, assim como
os planos diabólicos e revides das três amigas.
Sem
ilustrações, porque afinal de contas, isso é coisa de criança e seria o “maior
mico”, mas com uma capa rosa e um desenho que já até gerou discussões, sendo
visto por alguns como insinuante demais (pernas de mulheres com salto alto e
usando meia-arrastão) para a faixa etária a que se propõe, o livro vale a pena
não só para leitoras, mas para meninos interessados em conhecer um pouco mais
sobre o universo feminino. Assim como é interessante para pais e educadores
entenderem os conflitos pelos quais seus filhos e alunos passam. Além, é claro,
de terem a oportunidade de voltarem um pouquinho no tempo.