quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vagas na Reserva


Quando eu quase tô conseguindo parar de escrever sobre loucura, recebo esse email:

Assunto: Vagas na Reserva

TRADE

- Pelo menos 6 meses de experiência dentro de uma empresa de moda (áreas MKT, comercial OU vendas)

- Nível superior completo

- Características: psicopata da organização, perfil conclusivo, super pró-atividade e ninja no bom relacionamento.

Pode fazer como eu fiz: leia novamente. É isso mesmo o que eles pedem: que você seja, ao mesmo tempo, um psicopata e um ninja!

Não entendo qual foi o objetivo de quem escreveu este anúncio. Pensei em duas coisas: um funcionário muito puto com o chefe, a fim de sacaneá-lo ou uma psicóloga de RH que de tanto entrevistar gente doida, resolveu pedir o inverso, pra ver se vem gente normal.

De qualquer forma os dois teriam que ter trocado a palavra psicopata por obsessivo compulsivo. Quem dera se o principal problema dos psicopatas fosse ser mega organizado e não estuprar criancinhas e matar a sangue frio.

Segundo informações da minha assessora para assuntos psicológicos, o psicopata é aquele que não tem sentimento. De culpa então, nem se fala. Em casos menos graves, o psicopata pode ser aquele chefe que adora esculachar o seu funcionário, ou um homem extremamente sedutor e carismático que tem várias mulheres e jura amor eterno a todas elas. Nos casos preocupantes, tipo os serial killers, cabe melhor o sinônimo de psicopata, ou seja, sociopata, a pessoa que não consegue viver em sociedade.

Com isso, a minha hipótese de que a psicóloga de RH fez o anúncio para tentar se livrar de gente louca, cai por terra. Na verdade, ela deve ser uma das amantes do seu chefe psicopata que lhe faz juras de amor eterno e para todas as outras seis mulheres que ele tem. Logo, o que ela quer é contratar psicopatas de verdade para se vingar do seu amante-patrão. Se for contratada uma mulher psicopata, ela vai ganhar do patrão, seduzindo-o e fazendo com que ele seja o corno. Se for contratado um homem-psicopata, ele conquistará todas as mulheres, afinal todos gostam de novidade. E o amante-chefe perderá o posto de ganharão.

Já a hipótese de que quem escreveu o anúncio foi um funcionário muito puto com o chefe, faz sentido. O funcionário atual é esculachado diariamente pelo seu chefe e está louco para saber como ele trata ou seria tratado por um também psicopata. Se for contratado um homem psicopata, ele provavelmente não vai se deixar dominar por um chefe de sua mesma laia.

Ah sim, ainda falta a parte do ninja do relacionamento. Bem... sem comentários. Ou há o que comentar? Se alguém me explicar o que isso quer dizer exatamente, eu comento.

Tô pensando aqui se eu devo responder a esse email, sugerindo que mudem o que está escrito no Assunto, sugeriria algo como: vagas para psicopatas e/ou ninjas. Afinal, o que mais importa atualmente para se conseguir um emprego é se encaixar na p¨*%$ do perfil.



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Filho Eterno


Psicopatas. Psicóticos. Esquizofrênicos. Doentes mentais. Ando meio dada a falar sobre isso. Escrevi um pouco sobre uma das formas de loucura, ou como cada um desejar chamar os distúrbios da atualidade, em um texto abaixo, mas ando percebendo que esse assunto é inesgotável. Mais do que nunca, a loucura está presente em muito mais atitudes do que imaginamos.

Por exemplo: a felicidade. Os estóicos diziam que para se chegar à plenitude de felicidade deveríamos ser “ataraxicos”, ou seja, não se importar de fato, não se abalar com a opinião alheia, ausência de preocupações, perturbações. Diz-se que um dos pensadores do estoicismo, em uma de suas aulas, sugeriu que os alunos pegassem um peixe (morto de preferência) colocasse uma coleira nele e saísse pela rua arrastando o bicho, como se estivesse passeando com um cachorro. Não tenho o dado de quantas pessoas tiveram coragem de fazer isso. E se fosse hoje? Tenho certeza de que esta não seria uma maneira apropriada de mostrar-se feliz diante da sociedade.

Eis que escarafunchando meus textos, descobri um que se chama “Ataque de Felicidade” não o coloquei aqui para não me chamarem de bipolar. Eu não sou ataraxica. Nele, eu digo que há dias em que acordo muito feliz e, o melhor: sem razão. Nesses dias meu cachorro que já acha que eu sou louca, passa a ter certeza da minha pobre condição. Tratá-lo como se ele fosse um bebê de verdade é só um dos sintomas. Nesses dias, quando alguém me pergunta: tudo bem? Eu respondo: tudo ótimo! E ainda pergunto: E você? (e o meu interesse em saber como vai o outro, é real).

Baseando-me então, nessa felicidade sem sentido, pensei e cheguei à conclusão de que para a sociedade atual, eu devo ser bipolar. No entanto, não se passaram muitos dias e li num “currículo”, desses que descrevem a pessoa com palavras engraçadinhas, a seguinte caracterização: estudante de jornalismo, bipolar, blogueira... Então pelo visto ser bipolar deve estar na moda, o que me libera pra colocar o meu texto aqui com mais detalhes sobre meus ataques de felicidade. Será que coloco isso no meu currículo também? Será que além de pôr a nossa “cor”, teremos que colocar nossa condição mental em futuros formulários? Muito normal, mais ou menos normal, normalíssima, louca, louca pra...

Acho que sim. E atualmente, com tantas novas doenças nominadas, o difícil vai ser marcar uma cruzinha em algum dos três primeiros itens acima. Eu e a torcida do flamengo, por exemplo, que tínhamos altos e baixos, se formos, agora, a um psiquiatra ele vai dizer que viramos uma massa humana bipolar. Uma pessoa tímida passou a sofrer de perturbação de ansiedade social; alguém um pouco desconfiado está sofrendo de desordem de personalidade paranóica e a pobre coitada da criança distraída está passando por um transtorno de déficit de atenção.

Todo esse texto é pra dizer que ontem fui ver a peça O Filho Eterno e sai dela com a sensação, pela primeira vez muita clara, de que os loucos ou os doentes mentais, são os “normais”. E não é só por causa dessa propaganda que torna qualquer normal, um pouquinho louco, ou vice-versa. É porque durante a peça comecei a me lembrar de uma a notícia que tinha lido no dia anterior: centenas de clinicas para tratar viciados em drogas foram denunciadas por torturas e condições subumanas de tratamento aos “doentes”. Normais eram os “enfermeiros” ou fanáticos religiosos que tratavam os dependentes de drogas, torturando-os, fazendo-os cavar buracos enormes do tamanho dos seus corpos para simular a própria cova ou carregar pedras o dia todo. Normais eram os que davam pauladas a pau nos presos (eles ficam encarcerados), os deixando seminus com excrementos por toda parte. Tudo para que pagassem seus pecados ou desobediências. Nada muito diferente dos primeiros manicômios que surgiram.

Bom, O Filho Eterno de Cristovão Tezza tem síndrome de down, e acho que como qualquer outro com a mesma “doença” seria incapaz de fazer mal a alguém. Pois o que os move é a afetividade. Não passa pela cabeça deles fazer mal a alguém, torturar, trair, revidar, matar, competir. Eles não sabem o que é religião, ganância, poder, vingança, cinismo. Eles sim são atáraxicos. Eles só querem dar o que eles têm: afeto. Eles sim são felizes. Que falta que nos faz filhos eternos...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Eu sou um fenômeno


Tenho certeza. Ou alguém parou de contar o número de celulares que já teve, quando estava no seu 13°? Eu parei. Não, eu não os troco porque quero estar “in” em relação à tecnologia. Eu os troco porque, sem querer, estou “in”ônibus (péssima essa) restaurantes, boates, cachoeiras, ruas do Rio de Janeiro e meus celulares insistem em sair dos lugares em que eles estão comigo.

Mas como eu ia dizendo, no sábado passado eu me superei. Foram dois de uma vez. Quando minha irmã me deu um celular só para falar com ela de graça, o que pensei? Vai dar merda. Não deu outra. Deu merda. Ele foi junto com o meu outro Nokia modelo tijolo. Dessa vez, os dois me surpreenderam. Não que eu não tenha ficado surpresa com o abandono de lar dos outros celulares, até porque algumas fugas me surpreenderam bastante: “passa tudo, passa tudo, celular, bolsa!...” Até picolé já passei, eu tinha 12 anos. Bom, isso é outra história.

Os meninos, digo celulares, me surpreenderam porque eles foram capazes de abrir o zíper da minha mochila, sair dela juntinhos para nunca mais voltar e eu fui me dar conta disso, só uns 20 minutos depois. Não sei se eles continuaram traçando suas rotas de fuga dentro do ônibus em que estávamos ou se saltaram ao mesmo tempo em que eu, só que com seu novo dono. Nunca vou saber.

O fato de não saber, já me irritou bastante, hoje em dia percebi que eu teria dois trabalhos: irritar-me e desirritar, já que a raiva não ia trazer uma câmera portátil com o videozinho contando o que aconteceu. Quem sabe no futuro ela traga? Imaginem o poder da mente trazendo câmeras instaladas nos ônibus para sua memória? Eu solicitaria um flash back desde o meu primeiro celular.

Pensando bem, é melhor dar uma acumulada nessa raiva, quem sabe assim, eu acelero o prazo de entrega de um só DVD com os flashbacks dos outros 17, 18 ou 19, 20 celulares que já tive? Ia bater uma saudade...Tô ficando melancólica.

Pensando melhor, eu ia pedir para pular os que eu perdi porque caíram dentro da privada em situações em que eu não estava , digamos, assim, no meu auge de sobriedade. Ia pedir também para não colocar no DVD os celulares que meu cachorro comeu. Até mais ou menos o seu primeiro ano, foram embora para dentro da sua boca, três celulares junto com três óculos de grau. Pitoco ainda está vivo. Vira-lata é foda.

E, assim, entre roubos, furtos e danos, sigo seguindo com o meu 3467589.0000° modelo Nokia Tijolo.





quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Pirei


Tenho certeza, eu pirei. Acho que estou no manicômio. Se algum dia, alguém encontrar essa carta, por favor, me tirem daqui. Neste lugar não vou melhorar, pelo contrário...

Como foi que eu vim parar aqui? Por quê? Quanto tempo faz? Aqui todos são um pouco surdos, se é que existe pouco surdo. Eles escutam, mas é um som tão estranho... Primeiro que a música raramente é em português, eu achava que eu falava português... Se é que isso é música. Muitas vezes é o mesmo som repetido quase que o dia inteiro, será que isso faz parte da tortura? Antigamente davam choques, essa deve ser a versão “light” (sim, eu também já me acostumei a falar várias coisas em inglês) deles. E, quanto mais alto eles escutam essas músicas, mais alto eles falam. Acho que eles acham que o ato de gritar gera mais energia. Vai ver que gera mesmo. Faz parte do “gerar mais energia” criar um sentimento de culpa pelo que você fez e pelo o que você vai fazer, quando sair dali.

É como se eles dissessem “sinta-se livre para sair nos fins de semana, mas não se esqueçam da gente”. Tem muita gente que prefere não sair nos fins de semana. No entanto, a maioria ainda sai e volta segunda-feira: pior. E aí, nos próximos cinco ou seis dias, o misto de culpa, realização e obrigação se alternam, sendo que a culpa nunca deixa de estar lá: no topo.

Para tentar amenizá-la, é possível ver aqui, todos os dias, pessoas correndo como loucos. Correm, correm, correm muito. Diria até que é uma imagem bonita de se ver, na verdade tenho um pouco de medo dela. Acho que todos, inclusive eu, já perdemos o controle. Não são mais humanos que fazem as coisas. Sim, as máquinas. E quando a máquina humana tenta ganhar das outras máquinas, a primeira invariavelmente se dá mal.

Aqui tem o que eles chamam de instrutores. Como em todo manicômio, quem tem mais dinheiro paga instrutores particulares. Eles sempre parecem felizes e querem fazer acreditar que todos serão felizes também, se forem iguais a eles. Às vezes basta só obedecê-los ou ter a companhia dos mesmos para que muitos se sintam melhores.

Mas eu descobri que nem todos esses instrutores são tão felizes quanto pintam. Em muitas coisas eles até se parecem com a gente. Mas em outras são completamente distintos. Talvez eles fossem mais felizes se não tivessem o material principal daqui: o espelho.

Neste lugar, eu descobri também que já chegou ao Brasil, aqueles robôs, iguaizinhos a humanos. Eles não choram, não dão gargalhadas, mas sorriem sempre. Alguns, é verdade, nem parecem tão humanos assim. Devem ter sido os primeiros protótipos. Apesar de terem o corpo de musas, dá pra ver que é robô. Mas a tecnologia vai melhorar e quem sabe, esses robôs não melhoram também? Em pouco tempo devem inventar injeção de gargalhada, acionada nos momentos oportunos, é claro. Devem inventar injeção de tudo; preocupação, tristeza...

Dá pena de ver esses robôs. Eles não conseguem mexer os músculos da face e, sabemos que o corpo deles não corresponde ao ano em que foram criados.

Eles contam (do verbo contar números) tudo. E não só os segundos, mas também o que eles chamam de rotações por minuto. Isso sem falar o que eles contam nas comidas.

Sempre contam a quantidade de calorias que há em tudo. Primeiro, que os internados aqui são capazes de ver calorias até em seus fios de cabelo. Se eles pudessem tirar suas unhas na hora de se pesar, acho que fariam. Um deles, uma vez me disse que podia sentir a comida o engordando imediatamente, como se pudesse sentir um pedaço de qualquer coisa correr pelo seu esôfago, chegar ao estômago e se transformar na pior da pior das vilãs: a gordura.

Não sei como vim parar aqui, não sei mesmo. Isso aqui deve ser que nem cigarro, que nem coca. Eu admito, é viciante. Mas bem que eu poderia ter vindo parar num manicômio mais simples. Aqui, 90% sofrem de outra síndrome: todo mundo se acha muito, muito rico (de dinheiro). É lógico que para eles se acharem ricos, tem que ter alguém para que eles achem pobres. E, acho que eu sou uma dessas; as pobres. Muitos são até simpáticos. Mas outros estão convencidos de que eu e meus amigos eexisitmos para nada mais do que serví-los. E aos seus desejos.

Pelo menos aqui é raro ver crianças. Só um dia que vi uma. Ela chegou com uma mulher que não estava vestida de babá. Muito estranho. A mulher foi imediatamente falar com as outras máquinas e deixou a criança sozinha, sentada numa mesa comendo uma omelete feita por um dos meus amigos. Eu acho que a criança ainda não conta as coisas, porque entre o pedido de omelete da mãe e a chegada do mesmo, ela, como uma criança, comeu todos os chocolates que a mãe não deixaria. Quando a omelete chegou, ela não sabia o que fazer com aquilo sozinha. Ficou parada, esperando alguém chegar para ajudá-la. Das crianças eu ainda tenho pena. Na verdade, acho que de todos.

Tadinhos, tenho a impressão de que eles nunca serão felizes de verdade, chutar o balde, sabe? Tem um deles, que tem o corpo que todos os outros gostariam de ter, mas acho sinceramente, que ele deve ser um dos mais tristes aqui. E o pior é que nem robô ele é. Deu pra sentir, porque ele chorou na minha frente: estava se achando gordo. Esse é um dos motivos, porque eu tenho certeza de que pirei. Pra mim e, até então achava que para os padrões de hoje, ele estava mais do que adequado. Vai ver que além de surda, eu tô ficando cega que nem eles. Nunca vi um lugar para tratar doentes, que espalha a doença. Coisas do século XXI.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Solidão



A esquete a seguir é baseadíssima em fatos realíssímos. O Vídeo que está no link abaixo é uma leitura dramatizada realizada na Casa da Gávea, pelo ator Maelcio Moraes, com a participação de Lorena e Clara (desculpe, não sei o sobrenome delas...).

        

                                                                     


Texto:


                                                                       Solidão





Personagem

Wellington – Entre 25 e 30 anos. Pedreiro de uma empresa. Tenta falar bonito, mas fala tudo errado.

Cena 1

Wellington está sentado num banco de ônibus falando em um Nextel.


Wellington – Oi meu bebezinho, tudo bem?

Voz em off de Sirlene – Tudo, onde é que você está?

Wellington – Nem entrei em Copacabana ainda.

Voz em off de Sirlerne – Eu queria te perguntar uma coisa.

Wellington – Vou colocar no modo off. Pronto. Pode falar.

Depois que coloca o celular em modo off, são feitas pequenas pausas entre suas falas. As pausas seriam o que Sirlene fala e que não podemos ouvir.


– Não entendi, assim, diretamente a sua questão. No caso, você quer saber com que intuito eu te fiz aquela pergunta?

                                                             (Pausa)

– É, assim, foi só pra relembrar os velhos tempos mesmo, meu doce.

                                                            (Pausa)

– Ah, amorzinho eu só aceitei, porque quem primeiro falou sobre isso ontem, foi você. Mas por que a sua dúvida? Qual é a sua questão?

                                                            (Pausa)

– Você me respondeu, mas não respondeu na direção da minha pergunta. Sobre o que eu sinto você já sabe. Eu quero saber dos seus sentimentos, meu bebê.

                                                             (Pausa)

– Eu sei, mas a gente foi aprendendo isso junto, né?

                                                             (Pausa)

– Tá bom, é, foi eu que te ensinei, mas naquele tempo você gostava. Você sempre realizou minhas fantasias, e eu achava que, no caso, estava realizando as suas. Mas se a sua fantasia não é mais essa, tudo bem. Eu não vou fazer nada pra te magoar, ou mesmo, ferir o nosso relacionamento.

                                                              (Pausa)

– Tá, se você está em dúvida, eu respeito meu nenenzinho. Eu só acho que assim, de repente, a gente podia tentar, nem que seja, pelo menos, uma última vez. Só pra você ver se você continua gostando ou não.

                                                               (Pausa)

– Não, não. Aí assim, tu me ofende. Eu não tô brincando com sentimento de ninguém. Eu só estou brincando. Se a gente for fazer a próxima vez eu vou deixar bem claro que não passa de uma brincadeira, que não é pra rolar sentimento nenhum. Mas se, no caso, isso tá mexendo com teus sentimentos, aí é outra historia. A gente tem que por uma conclusão nisso.

                                                              (Pausa)

– Para com isso, eu não tô vendendo minha mulher, não. Tú é meu docinho, tu sabe disso.

                                                             (Pausa)

– Se você vem me falando desse jeito, eu ligo pra ele agora e cancelo tudo. No caso, o máximo que pode acontecer é o Jorjão ficar meio puto.

                                                             (Pausa)

– Não, não é puto por isso. Além de desfrutar da ocasião, do momento, né, ele não ganha nada, nem.

                                                             (Pausa)

–A gente ganha sim. Você nem tá pensando nos meus desejos. Pô, tenta colocar em questão, no caso, as minhas fantasias.

                                                           (Pausa)

–Vou te dizendo logo, o Jorjão vai ficar puto com essa tua, no caso, mudança repentina de opinião. Acho que ele tava doidinho já. Na verdade eu também estava.

                                                            (Pausa)

– Porra, rolar um sentimento no Jorjão é foda, aquilo sempre foi uma máquina e não um ser humano. Acho que tá rolando um sentimento da sua parte, Sirlene.

                                                            (Pausa)

– Eu? Foi você que veio falando de sentimento.

                                                             (Pausa)

– Tá bom, eu já entendi, você não quer.

                                                            (Pausa)

– Porra Sirlene, você quer ou não? Eu já te demonstrei minha opinião. Mas se você não quer, eu te respeito. Se a gente fizer isso, vai te machucar?

                                                           (Pausa)

– Como assim, em que sentido? Se vai machucar seus sentimentos, Sirlene. Às vezes, você é difícil de entender, hein.


                                                          (Pausa)

– Olha Sirlene, tu vai ficar de embromação, eu vou cancelar a porra toda. E não se fala mais nisso.

Wellington “sai” do ônibus, caminha um pouco e de costas para o público “cumprimenta” Jorjão.

– Fala Jorjão, tudo bem? A Sirlene deu pra trás, vai ser só eu e tu mermo.

                                                                  Fim



segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Fogos, Gorós e Leite Condensado


Cena 1 _ Todo mundo de branco com uns gorós na cabeça.


Cena 2 _ Tia , você está bem?

Ela, sentada no sofá com cara de quem tinha acabado de ver um fantasma responde com a cabeça que não. Levanta-se a véia até o banheiro. Lá, a preocupação dela em entupir a pia parecia sinalizar más lembranças das estripulias dos filhos. Mas, é claro, que ela entupiu.

Alguns minutos, digo, vômitos depois, senta-se a véia no toilet, limpinho, diga-se de passagem, enquanto uma das sobrinhas, tentava desentupir A PIA.

Observação da autora 1: por que todo bêbado cisma em vomitar na pia e não no vaso que está ali, bem-do-lado?

Continuando: depois de quase uma hora sentada na privada e com a porta fechada, meu tio decidiu que era hora de tirá-la daquela sauna. E agora? Como levantar um peso praticamente morto e descer uma escada com ele? Sim, ela estava praticamente desmaiada.

Chamam os homens da festa, fica cada um com um pedaço do corpo da tia, outrora tão elegante, sorridente, vibrando... É, o ano começava bem...

Chega-se ao andar de baixo, e todos os bêbados começam a palpitar.

Observação da autora 2: por que todo brasileiro dá palpite em tudo e bêbado dá ainda mais?


Continuando: começa a saga pra ligar pro SAMU, que é lógico, não funciona. Ninguém lembra qual é o plano de saúde da tia. A irmã da nora consegue uma alma que atende. Só que a irmã da nora é um pouco esquentada (mais ainda depois da informação para dar leite condensado à bêbada) e desliga na cara da alma do SAMU.

A nora tenta ligar outra vez, atende a mesma alma e pergunta: “você vai desligar na minha cara, também?” “Não, mas o que eu tenho que fazer além de dar leite condensado? Minha senhora, ela está suando frio, de olho fechado e não consegue falar, acho que só o leite condensado não vai funcionar...” Isso, na maior calma do mundo, enquanto o genro (mineirinho e bem menor do que a sogra, abraça, a põe recostada no peito, tratando-a como criança).

A mulher do SAMU, diante da pergunta da nora, manda dar soro, enquanto isso o “namorado da irmã da nora” consegue falar com outro atendente do SAMU. Lá vem ele com a história do leite condensado, ao que o menino calmamente responde: “olha, eu acho que leite condensado não vai funcionar. Ela não está bêbada, só precisa de glicose na veia.”

Observação da autora 3: se eu fosse do SAMU também ia morrer de rir.


Depois de tanto tempo, e nenhum leite condensado (porque ninguém o achava, só a tia que sabe onde ele fica) a véia começou a responder às perguntas com a mão, e ainda teve a petulância de dizer que, já, já, ia voltar pra dançar.

Mas sem caipirinha dessa vez, né, tia?!