quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Comunicando-se


Helena_ O restaurante do seu primo já abriu.

Ana_ Restaurante? Do Zeca?

Helena _ Onde você vive Helena?

Ana_ A duas quadras de você, tia.

Helena_ Pois é, e não sabe que seu primo tá abrindo mais um restaurante, aqui no Leblon?

Ana _ Não, nem sabia que era “mais um”.

Helena_ Vocês precisavam se falar mais.

Ana_ Mas a gente se fala, tia. Quase todos os dias, pelo Google talk.

Helena_ E ele não te falou?

Ana_ Não, na verdade a gente só se fala para saber quais as boas da night...

Helena_ Sei. Então de noite vocês se encontram?

Ana_ Nos encontramos.

Helena_ E mesmo assim, nada?

Ana_ Tia, quem é que conversa em boate?

Helena_ Eu conversava.

Ana_ Devia ser um saco, a sua época.

Helena_ Por que?

Ana_ Conversar o que numa boate?

Helena_ Sei lá, qualquer coisa. Vocês fazem o que, numa?

Ana_ Dançamos, bebemos, uns beijinhos aqui, outros ali...

Helena_ E esses beijinhos aqui e ali, dão no que depois?

Ana_ Na maioria das vezes, nada.

Helena_ E você chama a minha época de sem graça?

Ana_ Claro, tia. Sem twitter, facebook, Orkut, MSN, celular. Não entendo como é que vocês se comunicavam.

Helena_ Bom Aninha, eu também não sei. Só sei que seu tio, eu conheci numa boate e tem um mês que o restaurante do seu primo tá no facebook e ele não fala de outra coisa no twitter.



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sombras do Mundo II


Ela – Ah não, você está de sacanagem. Eu cheguei aqui tem três anos já. Estou muito bem sozinha, não preciso da companhia de ninguém.


Ele – Ué, minha querida, eu só apareci porque você me trouxe.

Ela – Eu te trouxe?!

Ele – Trazer, de verdade, não trouxe, eu sou só uma conseqüência... Uma vez que você escolhe um corpitio eu posso acabar aparecendo...

Ela – Quando eu nasci não me disseram nada disso. Se eu soubesse, nem começaria a trabalhar. Gosto de fazer meu serviço sozinha.

Ele – Sozinha? É piada, né? Você sozinha não é nada. Pelo contrário, só se aproveita das fraquezas dos outros.

Ela – É o que fazem os chefes...

Ele – Você não se preocupe que eu não vou tirar seu lugar, não. No máximo, vou ser um empregado seu.

Ela – Até parece... você vai encurtar o meu trabalho.

Ele – Deixa de ser ambiciosa... Você já trabalha com tanta gente... Vai ficar brigando por uma pessoa só?

Ela – Eu? Ambiciosa? Você trabalha com muito mais gente que eu...

Ele – Não trabalho, não. É diferente. Eu ajo muito mais rápido que você, aí acaba sobrando bem menos gente.

Ela – Eu não tenho nada a ver com isso. Ninguém mandou ser tão sorrateiro. Se fosse que nem eu, desse sua cara logo, isso não ia acontecer.

Ele – Mas aí eu ia ficar igual a você e eu gosto de originalidade.

Ela – Então, você fica com a sua originalidade e vai se retirando daqui.

Ele – Agora não dá mais. Já cheguei há muito tempo. Na verdade, pouco depois de você. É que, como sempre, só descobriram agora. Tarde demais.

Ela – Não pode ser. Como eu não percebi?

Ele – Isto é sinal de que meu trabalho está cada vez melhor.

Ela – E eu achava que eu que era a má da historia.

Ele – Você é bem pior do que eu. Eu, pelo menos, não faço as pessoas com quem eu trabalho sofrerem. Você não. Fica enrolando, enrolando... deixa que vivam até dez anos ou mais...

Ela – Ué, o que o povo quer não é viver? Eu deixo eles fazerem o que eles quiserem.

Ele – Você deixa a galera que tem grana fazer o que eles quiserem, porque quem não tem se ferra.

Ela – E com você? É diferente?

Ele – É, comigo não tem conversa, não. Na maioria das vezes, eu chego quebrando tudo logo.

Ela – Que mentira... A galera que tem grana sobrevive muito mais.

Ele – Tá bom, tá bom, concordo. Então, quer dizer que somos parecidos, não acha?

Ela – Não, eu não tenho nada a ver com você. Você deixa as pessoas feias.

Ele – Não sou eu que deixo. São os remédios. E você as deixa lindas, por um acaso?

Ela – Não, mas os remédios que são usados contra mim, ajudam a disfarçar. Não adianta tentar me comparar com você. Pra começar, pra viver comigo, antes de tudo, as pessoas precisam ser pacientes. Eu ajo com calma, sem pressa... Mas com você, não. Como você mesmo disse, chega quebrando tudo logo. Além do mais, meu querido, as pessoas querem que eu esteja ali. Mesmo não gostando de mim. Existe coisa melhor do que isso?

Ele – Como assim, te querem? Todo mundo te odeia, você é o mal da humanidade.

Ela – Exatamente, o mal da humanidade. E você? O que é? Nada. Se você não chega com força total, facilmente é destruído. Se eu chego, passo a fazer parte da vida de alguém. Não tem como me destruir. Então é melhor que a pessoa fique comigo. Caso contrário, é pior, né? Eu só vou me separar da pessoa, quando ela estiver lá do outro lado.

Ele – Isso é questão de tempo. Um dia, ainda vão descobrir como te destruir.

Ela – Será? Eu já tenho trinta anos. E, com tanta tecnologia, experiência e bla, blá, blá, ainda não descobriram o jeito de fazerem isso?

Ele – A gente move uma indústria econômica, né, minha, cara?

Ela – É, e que indústria!

Ele – Pô, mas tá complicado pro meu lado sabia? Já destruíram o pessoal do pulmão esquerdo. Esses tratamentos estão cada vez mais potentes.

Ela – Nem me fala! E esses remédios que ela insiste em tomar todos os dias pra disfarçar que eu tô aqui. Isso me faz um mal.... Me sinto super fraca cada vez que ela coloca aquele bando de remédio na boca.

Ele – Isso não é nada, a guerra contra mim é bem pior. É direto na veia. Aquelas sessões... que coisa insuportável.

Ela – Desculpe te dizer, amigão, mas acho que você não dura muito não, hein?

Ele – Vou durar sim, você vai ver. Posso até sumir por uns tempos, mas depois eu volto.

Ela – Se é pra voltar, pra que sumir, então?

Ele – É que, às vezes, aqueles remédios vêm com tanta força que eu não consigo resistir. Aí, dou uma passeada, descanso um pouco, pra voltar a trabalhar com força total.

Ela – Então, quer dizer que você enche de esperança o pobre coitado do corpo onde você está, pra depois voltar? Isso é que eu chamo de maldade.

Ele – Ué, se ele não lutasse tanto contra mim, talvez fosse menos doloroso.

Ela – Dizem que isso se chama instinto de sobrevivência.

Ele – Instinto de sobrevivência?... Se o doente não tem nem como se manifestar?

Ela – Como não tem?

Ele – Ele pode optar por se cuidar ou não.

Ela – Convenhamos que não é muito uma questão de opção, não é mesmo? Trabalhei com muitos que queriam partir, e a família insistindo pra que eles ficassem. Acho que, no final das contas, é a família que decide se o doente vai viver ou não com a gente.

Ele – Me desculpe, mas aí eu discordo. A família tem muita importância, é claro. Mas se o doente não quiser, ele também não sobrevive.

Ela – Basta ele querer então?

Ele – Não digo que sobreviva, mas que ajuda, ajuda. Pelo menos por mais tempo. Nos casos em que o próprio corpo me chama, aí sim, é mais complicado.

Ela – Deixa de ser prepotente. Vai dizer que te chamam? O que as pessoas querem é distância da gente.

Ele – Conscientemente, né? Aí ficam com essas paranóias. Não pode comer uma coisa. Tem que se encher de outras porque previne isso e aquilo. Mas sabe que são essas pessoas as que mais me chamam? Elas podem ter a melhor dieta do mundo. Estar lindas por fora. Não adianta nada. Muitas vezes, sem saber estão me chamando de tão infelizes que são. Aí, amiga não há prevenção que não faça eu chegar e muito menos tratamento que me destrua.

Ela – É, pensando bem, acho que de alguma maneira, as pessoas acabam chamando a gente mesmo... Só no caso desse corpo aqui e de alguns outros que eu ainda fico na dúvida. Será que é inocência ou ignorância que faz eu chegar em lugares como esses em que estamos?

Ele – Acho que de alguma maneira elas sempre se ligam, né?

Ela – É. Pode ser. Tem pessoas que acham que eu nunca vou aparecer nelas. Sabe como é que é. Não se cuidam, né? Mas essa aí, dona desse corpo onde estamos, eu fiquei com pena. Se eu pudesse não trabalhar pra ela, não trabalharia. Mas foi mais de uma vez. O marido dela transava a torto e à direita com outros caras, umas putas... e ela nem desconfiava. Ele era um senhor ator. Aí, não deu outra. De uma ou um dos amantes dele, já nem me lembro de qual, eu vim parar aqui. Às vezes, eu gostaria de escolher as pessoas onde vou morar. Essa não merecia.

Ele – E alguém merece?

Ela – Alguém merece morrer?

Ele – Acho que sim. Talvez não com a gente. Mas esse foi o trabalho que nos deram. E, nas próximas décadas, serão outros no nosso lugar. Vamos fazer parte dos livros, como a tuberculose, a gripe espanhola... Agora, não cumprimos mais do que nossa obrigação...


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Despedida


Dor – Você sabia que eu ia chegar.


Encontro – Mas não fique assim, melhor do que a separação é o reencontro.


Saudade – E enquanto ela não volta, eu estou aqui pra preencher esse vazio. Lembranças boas, sabe?


Pavor – É, mas é bom ficar com os pés no chão, esse reencontro pode nunca vir, você sabe. Ela não te prometeu nada. Ficou tudo tão no ar...


Esperança – Não dê ouvidos a ele. Eu faço parte de você, esqueceu? E nunca vou sair daqui.


Defesa– Vai por mim... A melhor maneira de você mandar a dor embora é esquecer.


Ideal – Que esquecer que nada... Eu vou continuar aqui, fazendo companhia pra esperança, mesmo que só na aspiração.


Desalento – E eu, pra dor.


Amor – Podem falar o que quiserem. Não me aflige. Eu sou verdadeiro e se o dela também for não há por que se preocupar.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Carnavais

 
Glória – Oi amor, tudo bem?


Carlos – Tudo, só a tia Dora que morreu.


Glória – “Tia” quem?


Carlos – Tia Dora, aquela de Salvador...


Glória – E desde quando você tem uma tia, que se chama Dora e que mora em Salvador?


Carlos – Desde que ela nasceu da mesma barriga que minha avó, a vó Dorinha,ué.


Glória – Vó Dorinha?! Quem mais existe na família que eu nunca ouvi falar?


Carlos – Iiih... Acho que se eu contar a família toda lá de Salvador, devo ter uns 45 primos, uns 57 sobrinhos...


Glória – Se bobear, até sobrinho neto você já deve ter então...


Carlos – Sabe como é o povo do Nordeste! Gosta de fazer filho que é uma beleza!


Glória – Bom, desde que a tia Dora e ninguém desse bando aí não interfiram na maciez da minha tez, podem morrer quantos quiserem...


Carlos – Desculpe, Glorinha, mas acho que sua tez terá que ser prejudicada... Agora, no Carnaval, faz um calor fortíssimo em Salvador...


Glória – E?...


Carlos – E aí... que algum representante carioca da família tem que estar presente no enterro da tia Dora, né, Glorinha?


Glória – Ah, mas é claro que vamos estar presentes... O que é que eu vou fazer em Salvador, em pleno carnaval?


Carlos – “Eu quero mais é beijar na boca! Eu quero mais é beijar na boca e ser feliz daqui pra frente!”


Glória – Quê que é isso, Carlos?


Carlos – A música da Claudia Leite! Famosíssima, andei pesquisando na Internet, e é o último hit do momento.


Glória – Meu amor... O que você anda tomando?...


Carlos – Então, minha querida. Ainda deu tempo de conseguir passagem pra amanhã, sábado de carnaval. Aí, domingo, é só dar uma passadinha no enterro e, depois, se enfiar de cabeça no maior trio elétrico da face da terra, Banda Eva! A Ivete Sangalo já com tudo em cima de novo! Nem parece que teve filho... E a Claudia Leite? Ô... aquela mulher...


Glória – Carlos?!


Carlos – Sim, meu amor...


Glória – Eu tenho certeza que isso tudo é uma brincadeira de mau gosto. O que eu, vou fazer enfiada no meio de um bando de gente fedorenta, gosmenta, suada?... Ai, me dá nojo só de pensar!...


Carlos – Não... meu amor, não é nada disso... Eu reservei a área vip! Muito uísque! Gente bonita! Comida da melhor qualidade!... Suas amigas vão morrer de inveja de ver você na Caras, em cima do trio elétrico mais badalado do mundo! E com esse corpinho aí, sarado, suado, pulando ao lado da Ivete Sangalo! E digo mais: não vão ser só suas amigas não. As filhas... as sobrinhas... as tias delas...Todas vão morrer de inveja de você, meu amor...


Glória – Bom, se for pra aparecer na Caras, tomar um uisquezinho na sombra da área vip, eu posso até considerar ...


Carlos – Então, amor, prepara as malas que a véia não dura muito tempo no velório não...Começa a feder... e sabe como é...


Glória – Só você, Carlos, pra me botar numa fria dessa... Maria!!! Corre aqui!!!


Maria – O que foi, dona Glória?


Glória – O Carlos, né, como sempre, tudo em cima da hora...


Maria – É mesmo, né, dona Glória. Desculpe dizer, mas eu também achei....


Glória – Também achou o quê, Maria?


Maria – Ué, ir fantasiado assim, tudo tão de repente, e ainda mais de dengue na Unidos do Cabuçu! Tudo só pra desfilar no Carnaval?... Tem que ter muito amor, a senhora não acha não, dona Glória?


Glória – O que você tá falando, Maria? Eu te chamei aqui pra me ajudar com as malas, sabe que o Carlos não arruma a dele até hoje, né?!


Maria – Ih, dona Glória, vocês rico não batem bem não, hein... Ontem mesmo eu trouxe a fantasia do dr. Carlos... Ele mandou comprar lá na comunidade... Ficou engraçado que só o dr. Carlos! Todo de mosquito da dengue, a senhora tinha que ver!


Glória – Caaaarlos!


Carlos – O que é meu amor?!


Glória – Meu amor? Que história é essa de fantasia de mosquito da dengue?


Carlos – Ah desculpe, amor... Sou distraído mesmo, esqueci de te contar. A Maria foi tão generosa, trouxe lá da comunidade dela a fantasia. você viu?


Glória – Para com essa palhaçada, Carlos! Você vai ficar de mosquito da dengue no alto de um trio elétrico?


Carlos – Claro que não, né, Glorinha, eu vou desfilar na ala dos mosquitos da Unidos do Cabuçu... Ai, tô tão empolgado... o sambódromo... a turma toda vai!


Glória – Carlos! Peraí, a gente não tá indo amanhã pra Salvador?


Carlos – A gente? Não... Glorinha, em nenhum momento eu disse isso. Para com essa mania de botar palavras na minha boca...Você acha que eu ia te meter nessa roubada de desfilar no meio de um bando de gente suja, suada, gosmenta e ainda mais vestida de mosquito? Você ia ficar péssima de mosquito... ainda mais da dengue. Não, não, de jeito nenhum...


Glória – Ah, você acha, Carlos? Então que tal já encomendar pra dona Maria a sua fantasia de veado pro ano que vem? Porque das duas, uma: ou você vai estar com o chifre do tamanho do dele, ou vai na ala do Bambi de tão acostumado a tomar...bem, você sabe onde. Maria! Coloca aquele biquíni de onça e a fantasia de coelhinha na minha mala, por favor? Ah e não esquece também daquele meu tailleur preferido. Vai ficar linda a foto na Caras, com a manchete bem grande “EXECUTIVA BEM SUCEDIDA DESFRUTA TRIO ELÉTRICO AO LADO DE IVETE, ENQUANTO O MARIDO SE VESTE DE DENGUE NO CARNAVAL CARIOCA.”


Pra quê?


Perdemos.  Somos todos grandes perdedores. Perdemos a luta contra o tempo.  Não adianta mais. Quando se tem tempo, não sabemos o que fazer com ele. Correr contra o tempo virou frase cotidiana.  E o pior: pra quê? Pare e se pergunte se há algum dia em sua vida em que, antes de dormir, você diga: “Ai, que bom, vou dormir realizado hoje! Fiz tudo o que queria e planejava fazer.” Mesmo que, por algum milagre, você responda a si mesmo que “sim”, não adianta: você continua sendo um perdedor e sabe por quê? Porque ainda vai faltar, amanhã sempre tem mais. Tem a continuação da dieta, o livro que você não leu e os milhões que faltam para ler. Tem a peça, tem o filme, tem o jornal, tem a noticia, tem os amigos, tem as pessoas, tem as visitas, tem o cachorro, tem os filhos, tem os negócios. Para quê? Isso vai ter fim? Algum dia, isso vai ter fim? Vai, quando você morrer! E aí?...E aí, você fez todas as dietas do mundo, todos os exercícios existentes no planeta, comeu e parou de comer tudo que disseram, leu todas as notícias de que você não se lembra mais e.... não deu tempo de terminar.

Pra quê? Necessidade de Conhecimento ou de Reconhecimento? De Ser ou de Parecer? Não sabemos mais responder, não dá tempo. A modernidade tem dessas coisas: objetivos não realizados, desejos não cumpridos, depressão permanente. E, assim, seguimos. Quando o tempo nos der tempo, já terá passado o tempo de ter vivido.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O nosso pequeno grande mundo

Clico: página inicial, feed de notícias. Fico sabendo que: Ludmila Maciel está em crise existencial, que Roberto Moraes irá comemorar o aniversário em Montevidéu, que Clarissa começou uma amizade com Fabio e que Roberta está voltando não sei de onde. Aliás, não sei quem são essas pessoas, mas elas aparecem na MINHA página inicial do Facebook, a rede social do momento. Sim, porque ela será efêmera, isso não tenhamos dúvidas.

Acho que o que mais dura na minha vida hoje é o meu cachorro, ele já tem dez meses! E ainda não passou do prazo de validade. Vida longa, sem defeitos, desse serzinho que só quer comida, dar e receber carinho. Nos meus últimos dez meses, acho que, fora ele, tudo deu defeito (ou acabou mesmo): supostas amizades, esperanças de encontros, ilusões de paixões arrebatadoras, sucessos que viraram fracassos. Em um segundo! Sem mencionar o celular, a máquina fotográfica e a máquina de lavar. Entre outras coisas, também deram defeitos (ou acabaram mesmo), mas que, diferentes do resto são tão, mas tão facilmente substituíveis...

A palavra é essa: substituível! Como no Facebook, frases que estavam ali, há dois segundos, nos dois segundos posteriores já serão outras, assim como o número de “amigos” que não para de mudar e crescer. Mesmo que você não os conheça. E assim, para continuar fazendo parte desse “todo”, todos entram numa busca incansável para que não sejam substituídos. Começam a se sentir na obrigação de estarem presentes sempre, mesmo que sempre ausentes. Sim, porque ainda não viramos deus. A suposta maneira, então, de chegar perto da onipotência é estar virtualmente em todos os lugares, para que, pelo amor de deus, você dure mais um pouquinho na vida dos outros.

E isso é tão sem sentido! Quantas pessoas há na SUA cidade? Na minha, no máximo, umas vinte, no meu bairro, umas dez, no meu mundo não chega a cem. E estou satisfeita. Entre esses existem: DOIS melhores amigos, minha irmã e gente que me faz rir!