segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Intoxicados pela Internet

Intoxicados pela Internet foi a manchete de hoje. A China já conta com 400 centros para dependentes. O que você imagina que fazem nesses centros? Apenas tiram a Internet e os jogos eletrônicos de perto dos viciados? Não! Eles sofrem maus-tratos, eletrochoques! Um dos internados morreu a pauladas ano passado. Por que isso?

Sim, pessoas normais que saem um pouco do que se espera delas como cidadãs, são consideradas loucas. Sempre foi assim, desde leprosos, pessoas com doenças venéreas, até os “loucos atuais”. Se o mal do século já foi lepra, tuberculose, gripe, agora é a Internet. E como livrar loucos do mal do século? Como tratá-los, torná-los capazes de voltar a viver em sociedade? Da mesma forma que séculos atrás: eletrochoques e porrada, muita porrada.

É, parece que, quando o assunto é desenvolvimento humano, mesmo uma das maiores promessas como nova potência mundial, fica para trás, não passa de uma sociedade primitiva. Quanto mais desenvolvidos tecnologicamente, mais animais irracionais nos tornamos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Contos do Rio





Petro – Ei, poste, vai se preparando aí, que o monstro branco tá vindo de novo. Pode ir acendendo as luzinhas.

Poste – Ah não... Hoje é sexta-feira. E trabalhar sexta à noite é uma maldade com o carioca! Sorte a sua que deu seis da tarde e não tem mais ninguém aí.

Petro – É ruim de não ter, hein?

Poste – Tá querendo enganar quem, Petro? Que funcionário público trabalha sexta, até tarde?

Petro – Você acredita que tem um ou outro que faz isso?

Poste – Deixa de ser mentirosa, Petro... Defender essa galera que usa e abusa de você todos os dias, pra quê?

Petro – Eles são meu sustento, né?

Poste – E desde quando carioca é sustento de alguém? O dindin tá lá em Sampa...

Relógio – Pô, não fala assim do carioca... Os caras podem não garantir o sustento do Brasil sozinhos, mas o meu aqui garantem. Eles chegam cedo, rapaz, e, justo na sexta, saem mais tarde. Isso que é povo que gosta de trabalhar!

Poste – Tadinho, tão velhinho e tão ingênuo... O povo fica é pra beber, homem!

Relógio – E isso não é trabalho? Ou você acha que é fácil ficar se controlando pra não dizer besteira pro chefe, guardar todas aquelas asneiras que ele fala...

Poste – Eu nem presto atenção nisso! Ah, me divirto mesmo é com os bêbados, com os amantes...

Petro – Pessoal, o monstro branco tá chegando... Tô vendo que hoje vai ser mais um dia daqueles: gente ilhada, chuva, apagão...

Relógio – Pois é, né, Petro! Tanto pra uns e nada pra outros... A galera do petróleo bombando, cheia do dinheiro... E você paradona, aí, inerte.

Petro – Meu querido, o dia em que você fizer a gente andar e não o monstro em nossa direção, você me avisa como conseguiu essa grande façanha, tá?

Poste – É sempre mais fácil colocar a culpa nos outros...

Petro – Olha aqui, senhor poste, eu não tô colocando a culpa em ninguém...

Relógio – Lógico que tá! Acabou de dizer que a culpa é da natureza que resolveu se movimentar...

Petro – Eu não vou discutir com vocês, já estou velha pra isso.

Poste – Ai, meus Deus, já tô vendo tudo. Daqui a pouquinho, quando o monstro branco ficar em cima da gente, a chuva chegar e o vento der o ar de sua graça, eu pifo.

Relógio – Estamos juntos, poste!

Petro – Vocês pifam, mas logo, logo, são consertados e ficam novinhos em folha. E eu, que não morro? Só envelheço... É bem pior. Faça chuva, faça sol, com monstro branco, sem mostro branco, eu continuo no mesmo lugar, todo santo dia... E, se não rolar nenhuma catástrofe, eu fico aqui até o mundo acabar.

Relógio – 2012, então!...Foi o que eu vi escrito atrás de vários ônibus, durante o mês de dezembro inteirinho do ano passado... mas já tô velho mesmo. Uns anos mais, uns anos menos, não faz muita diferença.

Poste – Que acabar o quê, relógio? Isso é propaganda pra vender filme. Você não sabe que o povo gosta de uma tragédia? Será que eu tenho que te explicar tudo?

Petro – Sabe o que mais? Vocês reclamam de barriga cheia, viu?

Relógio – De barriga cheia está você, Petro, nós somos finiiiinhos. Olhe só pra si mesma: imponente, grande, chamando atenção. Não tem ninguém que passe e não te veja. Já eu, o que adianta ser o relógio da Carioca, se ninguém sabe que eu tô aqui? Passo completamente despercebido...

Poste – Ah, mas não passa mesmo! Amiguinho, você tá falando com um poste. Quem me percebe são só os carros com os bêbados dentro, se bem que, depois da lei seca, isso tem diminuído. Nem mais pelos carros bebuns eu sou notado.

Petro – Que isso, meu caro?! Você dá a luz às pessoas!...

Poste – E você, o petróleo. Sem discussão, por favor. Recolho-me à minha insignificância. Já sei, não vou nem acender pra ninguém me perceber aqui. Assim as chances de eu pifar são menores... Se bem que, se eu pifar hoje, não trabalho o fim de semana todo... Que dúvida. O que você acha, relógio? Vai parar de trabalhar já, ou só quando a chuva chegar?

Relógio – Só quando a chuva chegar. A galera daí de baixo não tem nada a ver com isso, né? Já vão ficar no escuro, no temporal, isso sem falar daquele caos no trânsito... Eu tenho que exercer minha função pra ajudá-los.

Petro – Claro, relógio! Vai adiantar muitíssimo saber a hora, no meio daquela correria pra se abrigar, pra pegar ônibus...

Poste – E como se ninguém tivesse onde olhar a hora...

Relógio – Ok. Mas, pelo menos, poste, eu sirvo como ponto de encontro. Agora, me diz: quem é que vai marcar no terceiro poste à esquerda da rua sei lá o quê, com a rua acolá?

Poste – Como nossa amiga Petro disse, eu ilumino as pessoas.

Petro – Mais ou menos, né, amigão? Ultimamente, você tem estado tão fraquinho...

Poste – Vem cá. A onda agora é tirar sarro de mim, é?

Relógio – Não fica nervoso, poste. Hoje é sexta. Vai começar a cair aquele nosso temporal santo de cada verão e já, já, você para de trabalhar. Vai ter o fim de semana todinho pra descansar. Xiii!... Já senti os primeiros pingos... E o dia que tava tão bonito... um céu azul. O que esse monstro branco tinha que fazer aqui hoje? Logo hoje?

Poste – Sei lá, vai saber... talvez... talvez...nos lembrar o quão...

Petro – Pequenos somos?!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Saga Australiana


Você já xingou muito alguém? Já ficou realmente puto? Se sim, leia isso aqui, que você vai ver que sempre existem maneiras de se ficar muito mais puto. Tudo sempre pode piorar... Começando por uma viagem. 66 horas entre aeroporto, aviões, hotéis e muita, muita confusão.

Saí do Brasil numa quarta-feira, à tarde. Deveria ir para Santiago, Auckland e, depois Brisbane. Se tudo desse certo, chegaria à Austrália na quinta feira à noite do Brasil, sexta de manhã da Austrália. Cheguei dois dias depois disso...

No avião pra Santiago, senta ao meu lado uma menina de Realengo que nunca tinha pegado avião. Por que raios, então, ela resolve ir pra pqp, digo, Nova Zelândia, em sua primeira viagem?!!! Ah, sim, ela não falava nenhuma palavra de inglês e me perguntava absolutamente tudo, desde onde ficava o botão das coisas até se a almofada e o cobertor eram para guardar ou usar...

Chegando ao Chile, a boa notícia: “Vocês vão ter que dormir aqui, porque não tem avião para a Nova Zelândia.” Começa o furdúncio: um bando de brasileiros achando que falava espanhol e os gringos com aquela cara de: "Que merda é essa?" Eu juro que, pela primeira vez na minha vida, eu queria saber falar só russo. Fui gentilmente eleita a "tradutora” do grupo... Viu? Eu não disse que sempre pode piorar? Bom, pelo menos foi a minha chance de ficar, uma vez na vida, em um Sheraton. Depois de hoooras no aeroporto até chegar ao hotel, fomos jantar. Tô tentando descobrir até hoje o que eu comi. Só sei que estava frio e que eu continuei com fome.

Dia seguinte, aeroporto de Santiago outra vez. Me disseram que assim que eu chegasse à Nova Zelândia, me colocariam no primeiro vôo para Brisbane. 13 horas de viagem. Entramos no avião às 10h da manhã, às 10h30 apagaram a luz e, às 11h30 da matina, estavam servindo o jantar. Tadinho de Tico e Teco, não entendiam nada. A Nova Zelândia está 3 horas à frente da Austrália, ou seja 15h de diferença pro Brasil, se for horário de verão. Confesso que demorei um pouco pra entender uma coisa que sempre foi simples: "Que horas são?"

Chegamos à Nova Zelândia! Eu estava esperançosa, achava que ainda ia ver meu namorado naquele dia, após de 4 meses! No entanto, vem a segunda boa notícia: “Vocês vão ter que dormir aqui, não tem vôo para a Austrália. Aí, sim, meu amigo, deu-se a merda: a brasileirada não falava espanhol, não entendia lhufas de inglês, e os gringos não entendiam nada que as mulheres da Lan Chile diziam. Mais sete horas no aeroporto, traduzindo...

Chega o ônibus para nos levar ao hotel. Muitos do grupo já tinham ido para seus respectivos hotéis e eu fiquei na última leva, resolvendo o vôo de um paulista de uma cidade de 30 mil habitantes de que eu nunca ouvira falar e de uma menina do Pará. Paramos em frente a um hotel, o motorista saltou, voltou e disse que não era para sairmos ali. O mesmo ocorre outra vez. Terceira boa notícia: “Os hotéis estão lotados, temos que continuar procurando” Mais uma hora e meia dentro do ônibus catando hotel. Só tinha vaga num bem longe do aeroporto. Pelo menos era 5 estrelas...

Saltando do ônibus, o motorista me pergunta: “Você fala inglês? Não fala?” “Sim.” “Poderia ajudar essa senhora? Ela não fala nada de inglês. Queria dizer a ela, que suas malas foram para outro hotel, na primeira leva.” A senhora era do Uruguai, tinha uns 65 anos e era completamente surda de um ouvido; no outro, ela usava um aparelho. Eu não disse que sempre pode piorar?

Deixei as minhas malas no hotel e fui com ela até o outro hotel, no mesmo ônibus em que já estava há mais de duas horas. As malas não estavam lá. Fomos, então, ao hotel da primeira leva. Finalmente, encontramos as malas da véia. Voltamos ao nosso hotel. A comida estava ótima dessa vez. Se bem que, com a fome que eu estava, iria achar qualquer coisa uma delicia.

No dia seguinte, vou tomar café da manhã (o "primeiro" vôo com vagas para Brisbane era às 3 da tarde), e advinha quem está lá, no restaurante, super sorridente, me esperando?! Isso! A véia. Tive que tomar café com a dita. Ela me pediu para ajudá-la a ligar para a filha que a esperava em Brisbane. Eu, visando minha mansão quando chegar ao céu, respondi que sim. Comprei o cartão para fazer ligações e pedi pra ela me dar o número da filha. Quando olho em seu caderninho, havia um número enorme, escrito com caneta falha. Pensei: “Puta que pariu, esse número está errado.” Tentei ligar de todas as maneiras, com zero, sem zero, com código de cidade, sem código, repetindo número, tirando número. Tudo sem sucesso. Propus a ela ligar para o marido no Uruguai, para pedir a ele que ligasse para a filha. Ela muito contente me disse: “Ótima idéia, o número é 22504692”.

_Sim. E o código da cidade e do país?

_ Código?...

_Sim, todo país tem um código, qual é o do Uruguai?

_Não sei, não, minha filha,... Nem sabia que existia isso...


Eu, como vocês podem imaginar, calmamente disse: “Olha, então, amanhã a gente vai à Lan Chile do aeroporto pra ver se alguém te ajuda”. Não, não, eu não queria esganar a véia. Imagina (de paulista)...

Dia seguinte, vou eu catar a oficina da Lan Chile, chegando lá, dão o número do Uruguai, mas, mesmo assim ela não consegue ligar. Eu, com minha paciência já na estratosfera, disse a ela que tínhamos que embarcar, já estava na hora, mas ela, tão entretida tentando ligar, não me ouvia. Eu saí de lá e deixei a véia.

Confesso que, quando entrei no avião, dei uma olhada para ver se ela tinha entrado também. Ufa, estava lá! Graças a Deus, bem longe de mim.

Chego então a Sydney, decido ligar pro meu namorado, que já comprara a segunda rosa, pois a primeira tinha murchado, pra avisar que, finalmente, estava na Austrália. Só faltavam algumas horas pra chegar a Brisbane e vê-lo. Lá, dá pra usar os cartões de crédito em telefone público. Só o meu que não deu. Coloquei o cartão no telefone, e cadê que ele saia? Íamos embarcar em 10 minutos. Meu Visa deve estar lá, até hoje.

Finalmente, chego ao aeroporto de Brisbane, com roupa de três dias atrás, e uma olheira que venceria a de qualquer personagem da família Adams. Eu tinha separado sandália de salto, conjunto de brincos e colar, maquiagem... Tinha comprado um vestido, tudo para colocar antes de encontrar o meu namorado. Não queria que ele se assustasse com a visão do inferno que teria. Eu só não sabia que o lugar para pegar as bagagens era aberto aos que vêm pegar as pessoas que chegam. Resultado: toda a preparação fora em vão. Sim, ele me viu daquele jeito. Quando eu estava descendo a escada rolante e o vi lá embaixo, quase que saio correndo na direção contrária. Mas, aí, seria pior, né? Além de horrível, ficar subindo uma escada que desce?...

Apesar de tudo, chegando a ele, foi encontro de cinema. Abraço longo, emoção!

Eu finalmente entrava na tão conhecida Sunshine Coast australiana, onde faz sol 330 dias por ano. O meu um dia e meio lá foi um dos outros 35...

Como eu cheguei dois dias depois do previsto, na manhã seguinte, já teríamos que embarcar novamente para Melbourne, onde iríamos passar uma semana de férias, antes das minhas aulas e o trabalho dele começarem. Na véspera, saímos com os amigos dele. No dia seguinte, Dylan não acordava. Deveríamos haver chegado no check-in até 7h15 no máximo. Chegamos 7h20. Perdemos o vôo. O próximo era às duas da tarde e mais 80 dólares para cada um.

Duas da tarde, fizemos o check-in. Excesso das minhas bagagens. Mais 150 doleta. Como mudei de um vôo internacional para um nacional de companhia barata, o peso permitido era muito menor, e, diga-se de passagem, eu trazia 3 garrafas de cachaça e um bando de doce brasileiro, o que contribuiu bastante para aumentar o peso do meu mochilão.

Com menos 230 dólares, algumas hot pies e VBs (a minha cerveja preferida de lá), eu finalmente começava a minha viagem!