terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O narcisismo nosso de cada dia!


Desde que começou a pandemia, começou o inferno do home schooling com a minha filha de 5 anos. Aliás, ela fez cinco um mês depois do início da quarentena, a pobre coitada tinha só 4 anos quando tudo começou. Ok, cinco também não é grande diferença. Ela está na pré-alfabetização da escola, que é britanica, ou seja, ela é alfabetizada em inglês, português fica pra depois. Isso porque saiu de uma creche que era contra ensinar inglês, mais alinhada com uma filosofia waldorf ou qualquer outra que prega que as crianças não devem aprender a ler e escrever cedo, só a partir dos 6 anos e olhe lá.

Pois bem, começou o inferno, apostilas de pdf e vídeo eram enviados todos os dias com milhões de letras e seus novos fonemas para aprender, primeiro em inglês, depoooois em português. Os vídeos eram do youtube. Ela chorava, discutíamos tooodo santo dia porque ela não queria fazer o dever e eu insistia. Ela acabava fazendo e até ficava feliz quando via que tinha aprendido algo. Principalmente matemática. Ela vibra quando acerta somas e fica falando palavras difíceis de porcentagem sem sentido se achando o máximo. Aí que está o pulo do gato, ela se acha o máximo em matemática e por consequência eu também me inflo toda quando ELA se enche ao somar 10 plus 2. Ou faz cabinho de palito quando a conta é mais do que dez e não cabe na mão ou ajuda com os dedos dos pés. (ok, ajudar com os dedos dos pés eu ensinei).

A professora ensinou a colocar o número 10 na cabeça e contar os seguintes, mas não funcionou esse método com ela.

Seguindo, eu sou jornalista e professora de português para estrangeiros e inglês, mas não sou alfabetizadora e não faço a mais vaga ideia de como se faz isso. Matemática e física sempre foram minhas piores matérias na escola, já português e historia eu sempre tive uma facilidade que os outros não entendiam, assim como não entendiam minha imensa dificuldade em inglês. Em inglês? Mas você não é professora DE INGLÊS? Sou, aprendi inglês com 20 anos quando fui morar na Austrália. Tenho essa mania de não desistir do que acho difícil. E quando aprendo, a realização é infinitamente maior. Também me ferro? Claro. Porque muitas vezes não consegui e aí o tombo e a decepção comigo mesma era muito maior. Descabelei-me dos pés à cabeça quando fiquei em recuperação em física.

Continuando: o que eu mais tenho ouvido no grupo de mães da escola da minha filha é: coloquei-o com uma professora particular. Estava todo mundo falando frases inteiras e só meu filho que não. Interessante é que mais da metade das mães falaram isso, então devo continuar ruim em matemática, pois se é só o filho de cada uma, como isso dá mais do que a metade, não sei. 

Fiquei pensando com meus botões. Os filhos querem falar inglês fluente, outra língua que não a materna, sem encontrar com amigos e confinados em casa? São eles que querem ou os pais que sentirão seus egos encantados dizendo? _ Meu filho sabe falar inglês perfeitamente mesmo com a pandemia porque EU proporcionei isso a ele. Quando elogiam seu filho, qual a primeira coisa que você pensa? Viu, ele é assim porque eu corro atrás disso, porque eu, porque eu, porque eu e não porque ele, porque ele.

A principal reclamação da minha filha quanto aos exercícios era tê-los que fazer sozinha sem amigos, e eu nessa loucura de não deixá-la para “trás dos outros”. Vejam : ela tem cinco anos de vida! Ela vai ficar atrás de quem? Sou EU que como mãe não quero ficar atrás de nenhuma mãe que ao final da pandemia inflará o peito para dizer: meu filho aprendeu inglês mesmo com todas as adversidades. Na verdade o que estou querendo dizer é que eu sou foda porque consegui isso e não ele. Tenho certeza que ele não está nem um pouco orgulhoso ou feliz de si próprio por isso e sim com saudade dos amigos e achando um saco tudo aquilo.

 Chegou então o segundo semestre, como se não bastassem os vídeos e pdfs diários, começaram as aulas on line diárias de 20 minutos, às vezes mais de uma aula por dia. Mães se sentindo culpadas mais uma vez porque não conseguem estar no horário da aula, pois têm que trabalhar. Para minha surpresa, minha filha gostou. Claro que gostou, ela não presta a menor atenção na aula, fica fazendo coraçãozinho com as mãos e abraçando o computador (o que é de dar um dó sem fim). Ela não está nem aí para o que está “aprendendo” (tirando matemática) e sim reparando em como é a aluna nova, se alguém perdeu o dente como ela ou em qual arco a melhor amiguinha está usando.

Na boa, seis meses na vida da minha filha do alto dos seus cinco anos, não vão fazê-la ir pra Harvard ou pro Sana fumar maconha. O que vai fazê-la ir pro pinel ou ter anos garantidos de psicólogos e psiquiatras a acompanhando é a frustração dela em não ME satisfazer fazendo todos os deveres e construindo frases completas em inglês como todos os amigos, ou metade deles.

Quando eu me toquei disso e parei de cobrá-la a fazer o dever todos os dias para atender um desejo meu, ela começou a querer fazer, do jeito dela, da maneira dela e o que ela quer,atendendo ao desejo dela e não ao meu.  Todos os dias de manhã me pergunta: _Mamãe o dever chegou? Hoje tem quantas aulas?

Em alguns vídeos (eles deixaram de ser do youtube e passaram a ser feitos pelos professores) eu pergunto: _Entendeu Anna? E ela: _Não, nadinha. Quem sabe com 20 anos ela entenda, ou não.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Crônicas (tristes) de Carnaval


Não sei porque, sempre às segundas depois do Carnaval (e, não na quarta de cinzas, rsrs) eu ouço a pergunta: e aí sobreviveu? Cara, sobrevivi, mas o deste ano foi punk, por razões boas (a companhia principalmente) e outras muito ruins. A ver:

Sexta-feira de Carnaval aparece uma bolota no meu olho direito, na quinta ele só estava vermelho. Lá vai eu e namorado pra emergência de oftalmo da policlínica de Botafogo. Ceratite com risco de virar lesão de córnea, caso eu não cuidasse. Já tive lesão de córnea e sei qual é a dor, então era melhor evitar. Alguns esporros do boyfriend depois, por não cuidar direito da lente, começa a maratona dos blocos de óculos e tendo que pingar três colírios entre 4h, 6h e 8h. Para bebuns em meio a blocos, não foi a coisa mais fácil do mundo. Fora que com algumas fantasias, especialmente a de enfermeira e com óculos, eu ficava com cara de atriz pornô….

Tudo foi indo muito bem, errando obviamente todos os horários dos colírios e com fotobia, por ter que usar óculos de grau e não os escuros, até que no bloco cru enchi o saco deles e fui sem. Que bom que não sou surda, porque ver algo, foi impossível. Eram vultos e mais vultos no palco, por mais que eu chegasse perto.

Veio o domingo, dia do meu bloco preferido, o Boitatá, chego lá e descubro que eles vão tocar só no palco. Peraí! A graça de todo bloco é o empurra-empurra, o calor humano…Enfim, pegamos o resto do sassaricando e meia hora depois de haver chegado, quando tinha uns dez minutos de show do Boitatá, percebo que a minha bolsa está aberta, sem a carteira e sem o celular.

Começa a saga para cancelar o cartão e o telefone. A Oi estava fora do ar e não podia fazer nada por mim, o Visa me pediu todos os dados, incluindo nome de periquito e cachorro para ao final dizer que eu estava no setor errado, no de pessoa jurídica. Chego ao setor correto e a atendente me pergunta qual o número do cartão roubado. Eu pedi a ela para me dizer o número de cor de todos os cartões dela. A mula percebeu o erro e perguntou o cpf.

Voltei pro bloco uma hora depois, enquanto o assaltante do celular ligava pra China, pro Japão, feliz da vida. Desanimei o resto do dia e acabou o meu domingo assim: puta com as pessoas, com o mundo.

Na manhã de segunda, já recuperada, entro no meu email e encontro um, cujo titulo era: identidade…, o copio aqui:

“Olá, encontrei seus documentos no chão no bloco no centro praça quinze, identidade, carteira do clube assitnte oglobo, cartao da unimed, e cartao de crédito... Nenhum dinheiro infelizmente (pra mim e pra voce ... kkkk) ... mas pelo menos seus documento estao comigo, como faço pra te entregar, posso enviar por correio ou de qlqr outra forma .... voce quem manda .... se nao acredita infelizmente é verdade, nao é atoa que nao te encontrei no facebook mas sim no twiter, espero q eu voce leia este email, pque fazem a getois eu nao tenho twitter ... abraços Braulio Villares Torres ... Fé na humanidade.” 

O email seguinte, foi morrendo de rir, ele e eu, porque ele bebun, escreveu o final todo errado. Mas de qualquer forma veio uma pontinha de fé na humanidade, como ele disse.

A carteira não tinha dinheiro nenhum mesmo. O ladrão se fudeu. Fui então, até a casa do meu mais novo amigo e peguei os documentos intactos. Um ponto para a humanidade. No entanto, menos mil para ela, quando pensando que havia conseguido bloquear o meu celular, uma amiga me diz que me ligou na quinta-feira e um homem atendeu, dizendo que o havia “encontrado”  no bloco, emendando: Ela perdeu, perdeu... E desligou.

Bom, como eu tenho PHD em roubos, furtos e perdas de celulares, o meu era o pior dos piores. Fica com essa merda, pilantra, porque graças a Deus eu não preciso disso!

Incrivelmente depois da segunda cegueta no Bloco Cru, na terça foi um dia tranquilo, fomos ao Largo do Machado, mas não Largo do Copo! Ah, como são bons os bloquinhos das Antigas, sem playboys, com marchinhas, senhores e senhorinhas fazendo-me antever o meu futuro: cervejinha em punho, sorriso no rosto e aquela vontade de que o Carnaval fosse eterno….

Quarta de cinzas, sem ressaca? Hein? Ok, a dor de garganta estava lá, o pé de Mussum também. É, eu não mudei tanto assim…

Parte 2 –

O roubo do meu celular e da carteira foram absolutamente nada em relação a outras grandíssimas tristezas. Vou contar a primeira não por ordem de importância, mas porque é mais “fácil” falar sobre.

Quando passava por uma das esquinas de Laranjeiras, uma mulher de fralda num colchão, pesando no máximo uns 30kg pede dinheiro. Além de fotos da fome na África, nunca tinha visto nada tão chocante. Na hora comecei a tentar ligar para o Samu e obviamente, todos os ramais ocupados. A mulher visivelmente à beira da morte, me pediu para não ligar para lá, dizendo que não iria. Eu perguntei se ela queria morrer ali mesmo. Porque ela ia morrer. Ela fez com a cabeça que sim. Mesmo com sua refuta, continuei insistindo no Samu e uns 20 minutos depois, nada. Nesse meio tempo passaram umas meninas dizendo que aquela mulher era de um morro próximo, estava com Aids e tinha um filho.

Assim que desistimos e saímos do local, um homem se aproximou dela. Essa pobre mulher está sendo ameaçada por alguém ou sendo posta ali para arrecadar dinheiro em troca de algumas pedras de crack. A tiraram dali de noite e no dia seguinte a puseram de novo. Uma imagem e uma tristeza que como diria Vinicius, não têm fim.

Mas ainda viria a parte pior. Uma guerreira com o mesmo nome que eu, lutava contra um câncer de mama desde julho de 2012. Essa guerreira tem duas filhas lindas e preciosas, uma delas, a esposa do meu primo. Na segunda, ela foi internada em estado grave. Ver o sofrimento de pessoas de que eu gosto tanto e voltar a essa dor que eu senti há 12 anos fez vir à memória lembranças que eu gostaria muito de ter conseguido apagar.

Elas, católicas, pediam para eu rezar, enquanto a minha fé terminou há esses exatos 12 anos. Mas eu acredito em anjos e pedia para ajudá-las, as três. Três mulheres unidas, com um amor eterno, mas que no sábado, tiveram que se separar. Não entendemos o porquê, a minha explicação é de que o céu estava precisando de mais anjos.
  


quinta-feira, 26 de julho de 2012

A revolta: em palavras, ou com elas


Eu adoro escrever crônicas para o www.oestadorj.com.br,  a única coisa ruim de se escrever para um meio “oficial” é que você não pode sair falando, ou melhor, escrevendo, tudo o que pensa. As palavras têm que ser medidas, não podem ser ofensivas a ninguém e o cuidado com o português tem que ser imenso. Pois é exatamente sobre isso que foi o meu último texto, que foi publicado neste veículo. Nele eu falo, o quão estão cometendo assassinatos com a nossa língua.

No texto de lá, eu dei uma amenizada na minha “raiva” e achei que ficaria meio chato se eu explicasse de onde e como se iniciou a minha “revolta”. Ela veio de dois lugares: sendo editora de estagiários de jornalismo e desde que comecei a trabalhar numa editora, fazendo principalmente revisão de livros. A partir desses dois momentos, que foram distintos, o meu contato com a ignorância “portuguesística” aumentou consideravelmente. Até criei um documento intitulado “Pérolas de português”, para abrir se eu estiver meio  down e querendo rir um pouco.  

Na editora, começo pelos textos que chegam. Dá vontade de falar para muitos: “Meu querido (a), por que ao invés de tentar ser escritor(a), você não tenta outra coisa? Qualquer outra coisa? Porque isso aqui tá uma vergonha…” . 

No entanto, venho aprendendo com o meu chefe que é melhor engolir sapo e não dizer nada, e dependendo do autor, deixar tudo errado como está, porque eles (as) não aceitam críticas. Como em qualquer outro mercado, há uma guerra de egos imensa. Ainda mais se soubessem que quem está por trás da revisão do livro é uma pirralha (comparado à idade que alguns têm) de pouco mais de um metro e meio….

É lógico que eu cometo erros de português, mas me esforço para encontrar sinônimos e não repetir a mesma palavra três vezes em um parágrafo de duas linhas, verifico dicionários, leio o máximo que eu posso, estou sempre tentando tirar dúvidas e aprender, tudo para que estes erros sejam cada vez menores. Mas infelizmente não é isso que encontro, principalmente nos jovens.

Na editora, recebemos propostas para fazermos parcerias com blogs. Aí sim, quando os vejo, a vontade de me suicidar é instantânea. Por que, meu deus, pré ou adolescentes que decidem sei lá por que razão, copiar a sinopse de um livro e escrever que ele é “muito maneiro” ou “muito chato”, se consideram resenhadores? E como eles têm coragem de postar tanta coisa sem uma revisãozinha? 

Quando essas propostas/pedidos aparecem, eu respondo corrigindo de cabo a rabo alguma resenha do blog e digo com outras palavras mais amenas: quando você aprender a escrever, volte a entrar em contato conosco. 

Isso não quer dizer que não existam blogs sensacionais, com resenhas ótimas feitas por adolescentes, mas é a minoria…

Quanto aos estagiários de jornalismo, é um exercicio de paciência quase diário. Há uns que são muito bons, parece que nasceram para ser jornalistas, mas tem outros que… Eu já recebi matérias, que foram puro “copiar e colar”. E a pessoa era tão… tão… sei lá o quê, tadinha, que colou duas vezes o mesmo trecho em uma só matéria. Aí, tá de sacanagem, né? 

E a que copiou uma mensagem do Facebook para exemplificar que tinha uma ONG contra animais na Rede Social? Sério, eu não sabia se ria ou se chorava. Bom, os exemplos são infinitos, daria uma boa noite de gargalhadas. 

Coloco aí embaixo a resenha que fiz para um livro da editora. Como estou divulgando essa resenha em outros sites, quero colocá-lo em meu blog para tentar evitar futuros plágios. Sei que colocá-la aqui não garante isso, mas é só para que saibam que fui eu que escrevi. Não sei se está boa ou ruim, mas é minha, rsrsrs.
Matta, Luis Eduardo. As Bem Resolvidas (?): Quem manda aqui sou eu!. Rio de Janeiro : Vermelho Marinho, 2011. 200p. il.

O livro é o primeiro de uma série que promete deixar muitos jovens leitores viciados na saga de Isa, Alê e Chris. Elas são bonitas, ricas e estudam em um ótimo colégio. Suas rotinas consistem em ir à escola, fazer compras e beber prosecco no Terraço do Grand Hotel Alfa, no coração de Ipanema. Ou seja, a primeira impressão é de que são garotas fúteis. E a quantidade de bebida que tomam sem nem mesmo terem completado 18 anos, pode assustar pais e educadores. No entanto, no decorrer da leitura essa suposta idéia inicial é rapidamente desmistificada. Apesar de, aparentemente as três adolescentes terem uma vida perfeita, passam por problemas familiares, amorosos e até conflitos na escola.

Através da abordagem de questões como estas, o livro pode suscitar nos leitores uma postura crítica em relação a temas como álcool na adolescência, famílias desestruturadas e bullying, sempre aliados à ideia de que nem sempre dinheiro é sinônimo de felicidade plena.

Apresentando o dia a dia dessas meninas, autênticas cariocas da Zona Sul, Luis Eduardo Matta, constrói no imaginário de seu público leitor todo o cenário do Rio de Janeiro. Para os que vivem na cidade, torna-se prazerosa e divertida a identificação com lugares, bares e restaurantes famosos, citados com nomes fictícios. Muito embora, também possa aguçar a curiosidade do leitor não-carioca, fazendo-o pensar se um “Terraço Alfa” existe de verdade e se meninas “descoladas” fazem o mesmo que Cris, Alê e Isa.

Com uma linguagem bem própria aos dos adolescentes, usando termos como “tipo assim”, o livro envolve o leitor com suas personagens, mantendo-o de tal forma preso à leitura, que mesmo 200 páginas, não são empecilho para se seguir acompanhando a história.

Luis opta por essa linguagem porque é adepto da popularização da literatura. Sendo signatário do Manifesto do Grupo Silvestre, o autor acredita que uma linguagem simples, tira o peso do livro como algo chato e obrigatório, tornado-o prazeroso, possibilitando que seja encarado como mais uma atividade de entretenimento.

Não é só a linguagem no entanto que prende o leitor, mas também a identificação com situações atuais, como por exemplo a rapidez com que notícias se espalham na era da Internet, namoros sanfonas como o de Alê e PH, que não conseguem se acertar devido ao ciúme doentio do rapaz; desejo de liberdade, expresso na vontade de Isa de ir para a escola de ônibus, ao invés de com seu motorista; paixões quase platônicas e timidez, demonstrados através do encantamento de Isa por Rogério, o aluno novo e tímido da escola; preconceitos dissimulados opondo os bons e os maus, como é o caso da rixa entre Bu Campello e as inseparáveis amigas. Bu Campello tem suas seguidoras, não faz parte do trio e veio de uma família não tão abastada, mas quando se tornou emergente, adotou como meta espezinhar as três patricinhas do colégio. Para tanto, põe em prática projetos mirabolantes que por darem sempre errado, divertem, assim como os planos diabólicos e revides das três amigas.

Sem ilustrações, porque afinal de contas, isso é coisa de criança e seria o “maior mico”, mas com uma capa rosa e um desenho que já até gerou discussões, sendo visto por alguns como insinuante demais (pernas de mulheres com salto alto e usando meia-arrastão) para a faixa etária a que se propõe, o livro vale a pena não só para leitoras, mas para meninos interessados em conhecer um pouco mais sobre o universo feminino. Assim como é interessante para pais e educadores entenderem os conflitos pelos quais seus filhos e alunos passam. Além, é claro, de terem a oportunidade de voltarem um pouquinho no tempo.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Paraísos Artificiais


Lançaram o filme com esse título aí em cima. Não o vi ainda, mas como acabei de passar alguns dias em um paraíso desses, é melhor colocar pra fora, do que morrer intoxicada. 

Não, eu não fui pra um rave e nem pra Amsterdã, eu  fui pra Las Vegas, o que causa praticamente os mesmos danos. Até agora não sei se cheguei ao Brasil mais lerda, acelerada, inteligente, burra, deslumbrada ou tristemente impressionada.

Não sei se Tico e Teco ficaram mais lerdos ou acelerados depois de tanta luz e som, 24 horas por dia. Pensei que com essa quantidade de informação, eles só iriam querem descansar quando voltassem ao Rio, mas por outro lado, não deu pra sentir se eles já chegaram neste estágio, acho que continuam meio aceleradinhos. Há drogas, cujos efeitos demoram mais para passar. 

Já a Marcia que tem birra com os americanos, voltou mais inteligente.  Achou o máximo que muitos brasileiros saibam falar português, espanhol e inglês, enquanto a maioria dos americanos continua achando que a capital do Brasil é Buenos Aires e,  apesar de a segunda língua oficial do país ser o espanhol, não fazendo ideia do que significa buenos días.

O burra e deslumbrada acho que vêm juntos quando se trata de tecnologia e outros produtos bizarros. Muitas das coisas, até agora eu estou me perguntando para que servem. Não me perguntem o quê, porque se pelo menos eu soubesse descrevê-las, eu falaria.

Eles criam cada troço, que se eles não criassem, ninguém nunca iria precisar. Mas, uma vez feito e divulgado, torna-se necessidade básica.  Como você irá andar com o seu cinto de segurança sem o "dispositivo" (vulgo, quinquilharia) que prende a parte que fica perto do pescoço à sua camiseta? Se você não usar isso, os riscos de morte por cinto de segurança são elevados ao cubo. Então, é melhor comprar, né?

Já quanto à tecnologia, cheguei à conclusão de que, nos EUA, para dar balão ou desculpas como: acabou a bateria do meu celular ou fiquei sem Internet, tem-se de ser muito sagaz.  São situações que simplesmente não ocorrem.  Há carregador de tudo, em tudo quanto é lugar, além dos móveis. E wi-fi também não é nem um pouco difícil de encontrar.

Sobre o deslumbramento especificamente,  quando se trata de praticidade, tenho que tirar o meu chapéu pra eles. Um vestido de casamento (o da minha amiga, não fui eu que casei) ficou pronto em dez minutos, assim como o casamento dela.

Sobre a minha burrice, além da tecnológica,  há a econômica: não captei qual é o sentido de todos os refrigerantes serem refil ou o porquê de uma porção de 10 nuggets ser US$ 4,60 e uma de 20 ser US$ 5,00. Só consegui entender  a razão de mais da metade da população ser obesa.

Quanto a ficar impressionada tristemente, começo sobre a quantidade grande de homeless, vulgo mendigos, que provavelmente não nasceram pobres, mas que ficaram sem casa,  porque o dinheiro acabou em algum paraíso artificial ou porque eles simplesmente não sabem o que fazer quando não há mais crédito em seus cartões. E, com a crise, meu amigo, o que menos há, é crédito. Logo, mais mendigos. Quem sempre foi rico não sabe ficar pobre, já que nunca tiveram que lutar pra ser ricos. Enquanto os pobres que lutam de verdade pra ser ricos, sabem ficar ricos ou pelo menos viver com dignidade. Nenhum dos mendigos que eu vi aparentava ser mexicano, da America do sul, central ou africano e sim, americano. Gente que nasce com dinheiro, acha que ele nunca vai acabar, já pessoas que tem que lutar por ele, quando o conseguem  dão valor e o agarram com toda a força.

Não é a toa, que ao invés de mendigos, todos ou quase todos os "xicanos", indianos e outros imigrantes estão trabalhando. Até motorista de taxi da Etiópia, tinha em Las Vegas, enquanto loirinhos de olhos claros com seus cachorros nas ruas, pediam dinheiro, bebida ou maconha. Muita pena. Dos cachorros.

Dos cachorros e da nossa sociedade esquisita. São cenários como Las vegas, ou Jurerê, em Florianópolis que me fazem pensar sobre esses paraísos artificiais, cuja concentração está nas boates ou pool parties. Em ambas as cidades, a maneira de chegar nas mulheres é igual: demonstração de dinheiro, logo poder de compra de bebidas. Como animais, criam-se cercados em que mulheres bonitas podem entrar, se homens com dinheiro (no caso dos EUA, os que ainda têm) as convidam. Ok, os homens vão falar: é disso que mulher gosta. Pode ser.

Sem moralismos, só acho que quando o sexo rápido e beber descontroladamente passam a ser o único e, somente o único, objetivo de se visitar uma cidade; ou A maneira de se "divertir",  "conquistar" alguém ou de se "deixar ser conquistado", regredimos quase à irracionalidade: alguns prossecos, umas vodkas, uma transa, no names. Não necessariamente nessa ordem. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Eu sou bonita, inteligente...


Já repararam que pessoas (digo, mulheres) com problemas de relacionamento nunca começam uma frase dizendo: eu sou feia, burra e não entendo porque ninguém me quer? Pois é, eu também nunca vi. Embora já tenha cansado de ver mulheres “feias”, muito mais felizes que as que se dizem bonitas. Passei a me perguntar sobre o porquê disso, depois de ler inúmeras colunas do psicólogo da revista de domingo do O Globo. Acho que entre 10, 9 são de mulheres começando a frase: sou bonita, inteligente, formada, trabalho, me sustento, mas... O mas é o que sempre f. tudo. Não conseguem encontrar um homem à altura delas. Eles são infantis, o marido não procura etc. E a melhor conclusão a que elas chegam é: eles têm medo de mulheres tão “independentes e resolvidas”.

Alguém já os perguntou se é isso mesmo? Sinceramente, acho que esse “medo” nunca passou nem um milimetrozinho perto deles. Até porque, se a mulher for independente, resolvida E gostar de sexo, as duas primeiras características vão passar completamente despercebidas. Pelo menos nos primeiros encontros.

Nos seguintes, aí sim, se os dois continuarem juntos, ele vai notar o quão interessante ou não, a mulher é para ele. E o homem para ela. Por isso que eu acho que se auto-intitular mega interessante, é um pouco narcisista. É lógico que você não tem que se considerar um merda, mas lendo tantas frases como a do titulo eu passei a me perguntar se eu começaria uma frase desse jeito. No primeiro momento achei que sim, mas depois de pensar nas pessoas que eu acho inteligentes e bonitas, mudei de idéia. Pois, provavelmente eu não vou parecer inteligente para alguém que domina tudo sobre física quântica, ou bonita para um índio de alguma tribo do Mato Grosso. Pensando nisso cheguei a duas conclusões: a primeira: ser bonito e inteligente depende do que o outro (mães não contam) pensa e não do que você pensa. Estou falando de pessoas “normais” e não de celebridades, se o mundo inteiro diz que uma modelo é bonita, é obvio que a própria também deve se achar bonita; segunda: existem milhões de tipos de inteligência e de beleza.

De que adianta, por exemplo, uma pessoa ser linda para os padrões ocidentais atuais (leia-se, magra) se ela não dá um sorriso, não tem charme ou carisma? Ou simplesmente, se quando você a conhece, o santo dela não bate com o seu? Em relação à inteligência, o mesmo. Quem é mais inteligente, um cara que consegue ser presidente de um país, sem ter feito nenhuma faculdade ou outro que tem doutorado em Harvard? Um agricultor, um surfista a falar sobre o clima ou o meteorologista formado do Climatempo? Um pedreiro que cresceu vendo o pai fazendo obras, ou um engenheiro civil?

Portanto, fica um recado para as bonitas e inteligentes. Vocês ainda não encontraram alguém, não porque homem não presta, ou porque ninguém tá afim de relacionamento sério hoje em dia, mas porque a pessoa que, depois de umas saídas, vai te achar bonita e inteligente, ainda não esbarrou com você. E para as que se acham feias, mas que ainda sim, são felizes, parabéns! De alguma maneira, vocês encontraram a sua beleza. E é isso que importa!












terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mulheres Ricas


Juro que a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando vi esse programa foi: “tomara, mas tomara que elas sejam seqüestradas. Todas juntas.” Tirando a piloto que parece ter uma noção um pouco mais real da vida, todas as outras são constrangedoras. E o pior é que as pessoas “só” acham divertido. Cara, divertido? Isso é triste. Muito triste. Essas mulheres não passam de bonecas falantes; e mal programadas por que não sai nada que preste dali.


Por que elas não se mudam para um país em que não há desigualdade social? Por que elas não ajudam crianças, abrem orfanatos, compram casas pra quem ficou sem, depois das enchentes, já que os políticos desviam o dinheiro que seria para isso? Enfim, por que elas não fazem algo de útil para a sociedade? A joalheira disse que o rico tem que gastar pra fazer a economia girar. Nunca ouvi frase mais estúpida do que essa.

O criador do programa se defende dizendo que o intuito do mesmo era mostrar que ricos passam pelos mesmos problemas que os “normais”. Até agora, eu não vi nenhum problema igual aos meus, muito menos, igual aos do que ganham um salário mínimo.

Imagino o nó na cabeça do nordestino que trabalha com a tal Barbie, e não só ele, as outras dúzias de empregados que trabalham para essas mulheres. Não é à toa, que volta e meia, vemos casos de caseiros e seguranças que matam seus patrões ou são pagos para isso. Não estou dando razão para eles. Mas sinceramente, seu eu morasse na favela e visse minha patroa comprando um jatinho que custa R$30 milhões para ir direto a Paris, não sei o que eu faria. Já se eu fosse empregado da Narcisa, teria só pena. Ela é claramente louca, tadinha.

Pelo menos, a band conseguiu o que ela queria: audiência. Tudo em nome da audiência.

Tenho certeza de que se eu contasse pra um e.t, que no Brasil, um país em que mais da metade da população vive em condições miseráveis, tem um programa com mulheres ricas só para falarem sobre seu dinheiro, que jogador de futebol, comediantes, cantores e o Zé da pipoca são políticos e que a música mais famosa do momento tem o refrão: "ai se eu te pego"; ele voltaria correndo para o seu planeta.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Espetáculo à parte


Finalmente acabou Dezembro! Pior do que Dezembro, só o carnaval. Assim como a quarta feira de cinzas, dia primeiro de janeiro é o dia internacional da ressaca. Todas elas: a moral, a da comilança , a da bebelança, a dos objetivos não realizados e por aí vai.

Não se sinta um fracassado se você não realizou nenhum dos objetivos que planejou para 2011. 2012 está aí pra você fazer a merda que quiser, já que o mundo vai acabar mesmo. Pensando nisso, passei a virada na praia, fazendo um farofão de dar inveja aos farofeiros de plantão, mergulhei de vestido branco com meu cachorro no mar, com vários amigos montei um barracão embaixo de chuva, e entupi, entupi de verdade, a minha casa de areia.

Para os meses seguintes tenho outros planos: o primeiro deles é tentar não planejar muito, porque nunca adianta, o final do ano chega e tudo o que você planejou aconteceu ao contrário. Logo, o melhor é colocar metas factíveis, como: mandar pra p#¨%&$, a vizinha que vira a cara quando passa por mim; lembrar de tomar engov “depois”; terminar de ler um livro de cada vez; publicar, finalmente, o meu livro de contos e crônicas; colocar uma peça em cartaz; conhecer mais o Rio e torcer para que ele e o Brasil melhorem. Tá aí, será que em janeiro de 2013 eu vou conseguir escrever uma crônica, elogiando o Rio? Espero que sim, porque por enquanto não dá mesmo. Aí vai uma das razões:

Estava eu chegando à Lagoa, antes do Natal, com meu namorado e o amigo, os dois gringos. Veio uma criancinha pedindo um brinquedo de um camelô que estava logo à frente da gente. Chegamos a ele e perguntei qual ela queria. Ela queria o mais caro: R$30,00. Eu disse pra ela escolher um mais barato, nesse meio tempo, os gringos, tocados com a pobre criança, decidem dividir a grana e dar o brinquedo pra ela. Felizes com a nossa boa ação, fomos sentar num restaurante em frente ao camelô. Cinco minutos depois aparecem outras crianças pedindo brinquedos para outras pessoas, e a “nossa criança” sem o brinquedo dela, pedindo também.

Que otários somos, não? Levantei-me da mesa, fui até a criança, perguntei-a onde estava seu brinquedo e ela disse que outra criança havia roubado dela. Fui com a mesma até o camelo, pedir o dinheiro de volta. Ele relutou dois minutos pra me devolver. Disse que não tinha nada a ver com aquilo, o problema era meu e da criança. Eu menti, disse que era advogada, e que se ele não me devolvesse o dinheiro, iria denunciá-lo por exploração de menores. Me xingando de louca, ele me devolveu os R$30,00. Xinguei-o também e voltei pro restaurante, mais uma vez desesperançosa com a nossa cidade e envergonhada do nosso povo. Para o gringo, que tinha acabado de chegar ao Rio foi, além da árvore, um espetáculo à parte.