Não sei porque, sempre às
segundas depois do Carnaval (e, não na quarta de cinzas, rsrs) eu ouço a
pergunta: e aí sobreviveu? Cara, sobrevivi, mas o deste ano foi punk, por
razões boas (a companhia principalmente) e outras muito ruins. A ver:
Sexta-feira de Carnaval
aparece uma bolota no meu olho direito, na quinta ele só estava vermelho. Lá
vai eu e namorado pra emergência de oftalmo da policlínica de Botafogo.
Ceratite com risco de virar lesão de córnea, caso eu não cuidasse. Já tive
lesão de córnea e sei qual é a dor, então era melhor evitar. Alguns esporros do
boyfriend depois, por não cuidar direito da lente, começa a maratona dos blocos
de óculos e tendo que pingar três colírios entre 4h, 6h e 8h. Para bebuns em
meio a blocos, não foi a coisa mais fácil do mundo. Fora que com algumas
fantasias, especialmente a de enfermeira e com óculos, eu ficava com cara de
atriz pornô….
Tudo foi indo muito bem,
errando obviamente todos os horários dos colírios e com fotobia, por ter que
usar óculos de grau e não os escuros, até que no bloco cru enchi o saco deles e
fui sem. Que bom que não sou surda, porque ver algo, foi impossível. Eram
vultos e mais vultos no palco, por mais que eu chegasse perto.
Veio o domingo, dia do meu
bloco preferido, o Boitatá, chego lá e descubro que eles vão tocar só no palco.
Peraí! A graça de todo bloco é o empurra-empurra, o calor humano…Enfim, pegamos
o resto do sassaricando e meia hora depois de haver chegado, quando tinha uns
dez minutos de show do Boitatá, percebo que a minha bolsa está aberta, sem a
carteira e sem o celular.
Começa a saga para cancelar
o cartão e o telefone. A Oi estava fora do ar e não podia fazer nada por mim, o
Visa me pediu todos os dados, incluindo nome de periquito e cachorro para ao final
dizer que eu estava no setor errado, no de pessoa jurídica. Chego ao setor
correto e a atendente me pergunta qual o número do cartão roubado. Eu pedi a
ela para me dizer o número de cor de todos os cartões dela. A mula percebeu o
erro e perguntou o cpf.
Voltei pro bloco uma hora
depois, enquanto o assaltante do celular ligava pra China, pro Japão, feliz da vida.
Desanimei o resto do dia e acabou o meu domingo assim: puta com as pessoas, com
o mundo.
Na manhã de segunda, já recuperada, entro no meu email e encontro um, cujo titulo era: identidade…, o copio aqui:
“Olá, encontrei seus
documentos no chão no bloco no centro praça quinze, identidade, carteira do
clube assitnte oglobo, cartao da unimed, e cartao de crédito... Nenhum dinheiro
infelizmente (pra mim e pra voce ... kkkk) ... mas pelo menos seus documento
estao comigo, como faço pra te entregar, posso enviar por correio ou de qlqr
outra forma .... voce quem manda .... se nao acredita infelizmente é verdade,
nao é atoa que nao te encontrei no facebook mas sim no twiter, espero q eu voce
leia este email, pque fazem a getois eu nao tenho twitter ... abraços Braulio
Villares Torres ... Fé na humanidade.”
O email seguinte, foi morrendo de rir, ele e eu, porque ele bebun, escreveu o final todo errado. Mas de qualquer forma veio uma pontinha de fé na humanidade, como ele disse.
O email seguinte, foi morrendo de rir, ele e eu, porque ele bebun, escreveu o final todo errado. Mas de qualquer forma veio uma pontinha de fé na humanidade, como ele disse.
A carteira não tinha
dinheiro nenhum mesmo. O ladrão se fudeu. Fui então, até a casa do meu mais
novo amigo e peguei os documentos intactos. Um ponto para a humanidade. No
entanto, menos mil para ela, quando pensando que havia conseguido bloquear o
meu celular, uma amiga me diz que me ligou na quinta-feira e um homem atendeu,
dizendo que o havia “encontrado” no
bloco, emendando: Ela perdeu, perdeu... E desligou.
Bom, como eu tenho PHD em
roubos, furtos e perdas de celulares, o meu era o pior dos piores. Fica com
essa merda, pilantra, porque graças a Deus eu não preciso disso!
Incrivelmente depois da segunda cegueta no Bloco Cru, na terça foi um dia tranquilo, fomos ao Largo do Machado, mas não Largo do Copo! Ah, como são bons os bloquinhos das Antigas, sem playboys, com marchinhas, senhores e senhorinhas fazendo-me antever o meu futuro: cervejinha em punho, sorriso no rosto e aquela vontade de que o Carnaval fosse eterno….
Quarta de cinzas, sem
ressaca? Hein? Ok, a dor de garganta estava lá, o pé de Mussum também. É, eu
não mudei tanto assim…
Parte 2 –
O roubo do meu celular e da
carteira foram absolutamente nada em relação a outras grandíssimas tristezas. Vou
contar a primeira não por ordem de importância, mas porque é mais “fácil” falar
sobre.
Quando passava por uma das
esquinas de Laranjeiras, uma mulher de fralda num colchão, pesando no máximo
uns 30kg pede dinheiro. Além de fotos da fome na África, nunca tinha visto nada
tão chocante. Na hora comecei a tentar ligar para o Samu e obviamente, todos os
ramais ocupados. A mulher visivelmente à beira da morte, me pediu para não
ligar para lá, dizendo que não iria. Eu perguntei se ela queria morrer ali
mesmo. Porque ela ia morrer. Ela fez com a cabeça que sim. Mesmo com sua
refuta, continuei insistindo no Samu e uns 20 minutos depois, nada. Nesse meio
tempo passaram umas meninas dizendo que aquela mulher era de um morro próximo,
estava com Aids e tinha um filho.
Assim que desistimos e
saímos do local, um homem se aproximou dela. Essa pobre mulher está sendo
ameaçada por alguém ou sendo posta ali para arrecadar dinheiro em troca de
algumas pedras de crack. A tiraram dali de noite e no dia seguinte a puseram de
novo. Uma imagem e uma tristeza que como diria Vinicius, não têm fim.
Mas ainda viria a parte
pior. Uma guerreira com o mesmo nome que eu, lutava contra um câncer de mama
desde julho de 2012. Essa guerreira tem duas filhas lindas e preciosas, uma
delas, a esposa do meu primo. Na segunda, ela foi internada em estado grave.
Ver o sofrimento de pessoas de que eu gosto tanto e voltar a essa dor que eu
senti há 12 anos fez vir à memória lembranças que eu gostaria muito de ter
conseguido apagar.
Elas, católicas, pediam para
eu rezar, enquanto a minha fé terminou há esses exatos 12 anos. Mas eu acredito
em anjos e pedia para ajudá-las, as três. Três mulheres unidas, com um amor
eterno, mas que no sábado, tiveram que se separar. Não entendemos o porquê, a
minha explicação é de que o céu estava precisando de mais anjos.