segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Crônicas (tristes) de Carnaval


Não sei porque, sempre às segundas depois do Carnaval (e, não na quarta de cinzas, rsrs) eu ouço a pergunta: e aí sobreviveu? Cara, sobrevivi, mas o deste ano foi punk, por razões boas (a companhia principalmente) e outras muito ruins. A ver:

Sexta-feira de Carnaval aparece uma bolota no meu olho direito, na quinta ele só estava vermelho. Lá vai eu e namorado pra emergência de oftalmo da policlínica de Botafogo. Ceratite com risco de virar lesão de córnea, caso eu não cuidasse. Já tive lesão de córnea e sei qual é a dor, então era melhor evitar. Alguns esporros do boyfriend depois, por não cuidar direito da lente, começa a maratona dos blocos de óculos e tendo que pingar três colírios entre 4h, 6h e 8h. Para bebuns em meio a blocos, não foi a coisa mais fácil do mundo. Fora que com algumas fantasias, especialmente a de enfermeira e com óculos, eu ficava com cara de atriz pornô….

Tudo foi indo muito bem, errando obviamente todos os horários dos colírios e com fotobia, por ter que usar óculos de grau e não os escuros, até que no bloco cru enchi o saco deles e fui sem. Que bom que não sou surda, porque ver algo, foi impossível. Eram vultos e mais vultos no palco, por mais que eu chegasse perto.

Veio o domingo, dia do meu bloco preferido, o Boitatá, chego lá e descubro que eles vão tocar só no palco. Peraí! A graça de todo bloco é o empurra-empurra, o calor humano…Enfim, pegamos o resto do sassaricando e meia hora depois de haver chegado, quando tinha uns dez minutos de show do Boitatá, percebo que a minha bolsa está aberta, sem a carteira e sem o celular.

Começa a saga para cancelar o cartão e o telefone. A Oi estava fora do ar e não podia fazer nada por mim, o Visa me pediu todos os dados, incluindo nome de periquito e cachorro para ao final dizer que eu estava no setor errado, no de pessoa jurídica. Chego ao setor correto e a atendente me pergunta qual o número do cartão roubado. Eu pedi a ela para me dizer o número de cor de todos os cartões dela. A mula percebeu o erro e perguntou o cpf.

Voltei pro bloco uma hora depois, enquanto o assaltante do celular ligava pra China, pro Japão, feliz da vida. Desanimei o resto do dia e acabou o meu domingo assim: puta com as pessoas, com o mundo.

Na manhã de segunda, já recuperada, entro no meu email e encontro um, cujo titulo era: identidade…, o copio aqui:

“Olá, encontrei seus documentos no chão no bloco no centro praça quinze, identidade, carteira do clube assitnte oglobo, cartao da unimed, e cartao de crédito... Nenhum dinheiro infelizmente (pra mim e pra voce ... kkkk) ... mas pelo menos seus documento estao comigo, como faço pra te entregar, posso enviar por correio ou de qlqr outra forma .... voce quem manda .... se nao acredita infelizmente é verdade, nao é atoa que nao te encontrei no facebook mas sim no twiter, espero q eu voce leia este email, pque fazem a getois eu nao tenho twitter ... abraços Braulio Villares Torres ... Fé na humanidade.” 

O email seguinte, foi morrendo de rir, ele e eu, porque ele bebun, escreveu o final todo errado. Mas de qualquer forma veio uma pontinha de fé na humanidade, como ele disse.

A carteira não tinha dinheiro nenhum mesmo. O ladrão se fudeu. Fui então, até a casa do meu mais novo amigo e peguei os documentos intactos. Um ponto para a humanidade. No entanto, menos mil para ela, quando pensando que havia conseguido bloquear o meu celular, uma amiga me diz que me ligou na quinta-feira e um homem atendeu, dizendo que o havia “encontrado”  no bloco, emendando: Ela perdeu, perdeu... E desligou.

Bom, como eu tenho PHD em roubos, furtos e perdas de celulares, o meu era o pior dos piores. Fica com essa merda, pilantra, porque graças a Deus eu não preciso disso!

Incrivelmente depois da segunda cegueta no Bloco Cru, na terça foi um dia tranquilo, fomos ao Largo do Machado, mas não Largo do Copo! Ah, como são bons os bloquinhos das Antigas, sem playboys, com marchinhas, senhores e senhorinhas fazendo-me antever o meu futuro: cervejinha em punho, sorriso no rosto e aquela vontade de que o Carnaval fosse eterno….

Quarta de cinzas, sem ressaca? Hein? Ok, a dor de garganta estava lá, o pé de Mussum também. É, eu não mudei tanto assim…

Parte 2 –

O roubo do meu celular e da carteira foram absolutamente nada em relação a outras grandíssimas tristezas. Vou contar a primeira não por ordem de importância, mas porque é mais “fácil” falar sobre.

Quando passava por uma das esquinas de Laranjeiras, uma mulher de fralda num colchão, pesando no máximo uns 30kg pede dinheiro. Além de fotos da fome na África, nunca tinha visto nada tão chocante. Na hora comecei a tentar ligar para o Samu e obviamente, todos os ramais ocupados. A mulher visivelmente à beira da morte, me pediu para não ligar para lá, dizendo que não iria. Eu perguntei se ela queria morrer ali mesmo. Porque ela ia morrer. Ela fez com a cabeça que sim. Mesmo com sua refuta, continuei insistindo no Samu e uns 20 minutos depois, nada. Nesse meio tempo passaram umas meninas dizendo que aquela mulher era de um morro próximo, estava com Aids e tinha um filho.

Assim que desistimos e saímos do local, um homem se aproximou dela. Essa pobre mulher está sendo ameaçada por alguém ou sendo posta ali para arrecadar dinheiro em troca de algumas pedras de crack. A tiraram dali de noite e no dia seguinte a puseram de novo. Uma imagem e uma tristeza que como diria Vinicius, não têm fim.

Mas ainda viria a parte pior. Uma guerreira com o mesmo nome que eu, lutava contra um câncer de mama desde julho de 2012. Essa guerreira tem duas filhas lindas e preciosas, uma delas, a esposa do meu primo. Na segunda, ela foi internada em estado grave. Ver o sofrimento de pessoas de que eu gosto tanto e voltar a essa dor que eu senti há 12 anos fez vir à memória lembranças que eu gostaria muito de ter conseguido apagar.

Elas, católicas, pediam para eu rezar, enquanto a minha fé terminou há esses exatos 12 anos. Mas eu acredito em anjos e pedia para ajudá-las, as três. Três mulheres unidas, com um amor eterno, mas que no sábado, tiveram que se separar. Não entendemos o porquê, a minha explicação é de que o céu estava precisando de mais anjos.