quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Saga Australiana


Você já xingou muito alguém? Já ficou realmente puto? Se sim, leia isso aqui, que você vai ver que sempre existem maneiras de se ficar muito mais puto. Tudo sempre pode piorar... Começando por uma viagem. 66 horas entre aeroporto, aviões, hotéis e muita, muita confusão.

Saí do Brasil numa quarta-feira, à tarde. Deveria ir para Santiago, Auckland e, depois Brisbane. Se tudo desse certo, chegaria à Austrália na quinta feira à noite do Brasil, sexta de manhã da Austrália. Cheguei dois dias depois disso...

No avião pra Santiago, senta ao meu lado uma menina de Realengo que nunca tinha pegado avião. Por que raios, então, ela resolve ir pra pqp, digo, Nova Zelândia, em sua primeira viagem?!!! Ah, sim, ela não falava nenhuma palavra de inglês e me perguntava absolutamente tudo, desde onde ficava o botão das coisas até se a almofada e o cobertor eram para guardar ou usar...

Chegando ao Chile, a boa notícia: “Vocês vão ter que dormir aqui, porque não tem avião para a Nova Zelândia.” Começa o furdúncio: um bando de brasileiros achando que falava espanhol e os gringos com aquela cara de: "Que merda é essa?" Eu juro que, pela primeira vez na minha vida, eu queria saber falar só russo. Fui gentilmente eleita a "tradutora” do grupo... Viu? Eu não disse que sempre pode piorar? Bom, pelo menos foi a minha chance de ficar, uma vez na vida, em um Sheraton. Depois de hoooras no aeroporto até chegar ao hotel, fomos jantar. Tô tentando descobrir até hoje o que eu comi. Só sei que estava frio e que eu continuei com fome.

Dia seguinte, aeroporto de Santiago outra vez. Me disseram que assim que eu chegasse à Nova Zelândia, me colocariam no primeiro vôo para Brisbane. 13 horas de viagem. Entramos no avião às 10h da manhã, às 10h30 apagaram a luz e, às 11h30 da matina, estavam servindo o jantar. Tadinho de Tico e Teco, não entendiam nada. A Nova Zelândia está 3 horas à frente da Austrália, ou seja 15h de diferença pro Brasil, se for horário de verão. Confesso que demorei um pouco pra entender uma coisa que sempre foi simples: "Que horas são?"

Chegamos à Nova Zelândia! Eu estava esperançosa, achava que ainda ia ver meu namorado naquele dia, após de 4 meses! No entanto, vem a segunda boa notícia: “Vocês vão ter que dormir aqui, não tem vôo para a Austrália. Aí, sim, meu amigo, deu-se a merda: a brasileirada não falava espanhol, não entendia lhufas de inglês, e os gringos não entendiam nada que as mulheres da Lan Chile diziam. Mais sete horas no aeroporto, traduzindo...

Chega o ônibus para nos levar ao hotel. Muitos do grupo já tinham ido para seus respectivos hotéis e eu fiquei na última leva, resolvendo o vôo de um paulista de uma cidade de 30 mil habitantes de que eu nunca ouvira falar e de uma menina do Pará. Paramos em frente a um hotel, o motorista saltou, voltou e disse que não era para sairmos ali. O mesmo ocorre outra vez. Terceira boa notícia: “Os hotéis estão lotados, temos que continuar procurando” Mais uma hora e meia dentro do ônibus catando hotel. Só tinha vaga num bem longe do aeroporto. Pelo menos era 5 estrelas...

Saltando do ônibus, o motorista me pergunta: “Você fala inglês? Não fala?” “Sim.” “Poderia ajudar essa senhora? Ela não fala nada de inglês. Queria dizer a ela, que suas malas foram para outro hotel, na primeira leva.” A senhora era do Uruguai, tinha uns 65 anos e era completamente surda de um ouvido; no outro, ela usava um aparelho. Eu não disse que sempre pode piorar?

Deixei as minhas malas no hotel e fui com ela até o outro hotel, no mesmo ônibus em que já estava há mais de duas horas. As malas não estavam lá. Fomos, então, ao hotel da primeira leva. Finalmente, encontramos as malas da véia. Voltamos ao nosso hotel. A comida estava ótima dessa vez. Se bem que, com a fome que eu estava, iria achar qualquer coisa uma delicia.

No dia seguinte, vou tomar café da manhã (o "primeiro" vôo com vagas para Brisbane era às 3 da tarde), e advinha quem está lá, no restaurante, super sorridente, me esperando?! Isso! A véia. Tive que tomar café com a dita. Ela me pediu para ajudá-la a ligar para a filha que a esperava em Brisbane. Eu, visando minha mansão quando chegar ao céu, respondi que sim. Comprei o cartão para fazer ligações e pedi pra ela me dar o número da filha. Quando olho em seu caderninho, havia um número enorme, escrito com caneta falha. Pensei: “Puta que pariu, esse número está errado.” Tentei ligar de todas as maneiras, com zero, sem zero, com código de cidade, sem código, repetindo número, tirando número. Tudo sem sucesso. Propus a ela ligar para o marido no Uruguai, para pedir a ele que ligasse para a filha. Ela muito contente me disse: “Ótima idéia, o número é 22504692”.

_Sim. E o código da cidade e do país?

_ Código?...

_Sim, todo país tem um código, qual é o do Uruguai?

_Não sei, não, minha filha,... Nem sabia que existia isso...


Eu, como vocês podem imaginar, calmamente disse: “Olha, então, amanhã a gente vai à Lan Chile do aeroporto pra ver se alguém te ajuda”. Não, não, eu não queria esganar a véia. Imagina (de paulista)...

Dia seguinte, vou eu catar a oficina da Lan Chile, chegando lá, dão o número do Uruguai, mas, mesmo assim ela não consegue ligar. Eu, com minha paciência já na estratosfera, disse a ela que tínhamos que embarcar, já estava na hora, mas ela, tão entretida tentando ligar, não me ouvia. Eu saí de lá e deixei a véia.

Confesso que, quando entrei no avião, dei uma olhada para ver se ela tinha entrado também. Ufa, estava lá! Graças a Deus, bem longe de mim.

Chego então a Sydney, decido ligar pro meu namorado, que já comprara a segunda rosa, pois a primeira tinha murchado, pra avisar que, finalmente, estava na Austrália. Só faltavam algumas horas pra chegar a Brisbane e vê-lo. Lá, dá pra usar os cartões de crédito em telefone público. Só o meu que não deu. Coloquei o cartão no telefone, e cadê que ele saia? Íamos embarcar em 10 minutos. Meu Visa deve estar lá, até hoje.

Finalmente, chego ao aeroporto de Brisbane, com roupa de três dias atrás, e uma olheira que venceria a de qualquer personagem da família Adams. Eu tinha separado sandália de salto, conjunto de brincos e colar, maquiagem... Tinha comprado um vestido, tudo para colocar antes de encontrar o meu namorado. Não queria que ele se assustasse com a visão do inferno que teria. Eu só não sabia que o lugar para pegar as bagagens era aberto aos que vêm pegar as pessoas que chegam. Resultado: toda a preparação fora em vão. Sim, ele me viu daquele jeito. Quando eu estava descendo a escada rolante e o vi lá embaixo, quase que saio correndo na direção contrária. Mas, aí, seria pior, né? Além de horrível, ficar subindo uma escada que desce?...

Apesar de tudo, chegando a ele, foi encontro de cinema. Abraço longo, emoção!

Eu finalmente entrava na tão conhecida Sunshine Coast australiana, onde faz sol 330 dias por ano. O meu um dia e meio lá foi um dos outros 35...

Como eu cheguei dois dias depois do previsto, na manhã seguinte, já teríamos que embarcar novamente para Melbourne, onde iríamos passar uma semana de férias, antes das minhas aulas e o trabalho dele começarem. Na véspera, saímos com os amigos dele. No dia seguinte, Dylan não acordava. Deveríamos haver chegado no check-in até 7h15 no máximo. Chegamos 7h20. Perdemos o vôo. O próximo era às duas da tarde e mais 80 dólares para cada um.

Duas da tarde, fizemos o check-in. Excesso das minhas bagagens. Mais 150 doleta. Como mudei de um vôo internacional para um nacional de companhia barata, o peso permitido era muito menor, e, diga-se de passagem, eu trazia 3 garrafas de cachaça e um bando de doce brasileiro, o que contribuiu bastante para aumentar o peso do meu mochilão.

Com menos 230 dólares, algumas hot pies e VBs (a minha cerveja preferida de lá), eu finalmente começava a minha viagem!










4 comentários:

  1. marcinha, amei o texto... parabéns pelo blog. e pensa bem seeeempre pode ficar pior. bj jaque pauletti

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  2. Adorei seu texto, Márcia!
    É uma saga... e você vai pro céu! hahahah.

    Beijos!

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  3. Ohhh Jesus, pobre Marcinha!!!! Realmente vc com certeza neste dia comprou seu cantinho no céu...
    Algo parecido já aconteceu comigo tbm, mas eu nao tive tanta paciencia como vc nao e desisti de ajudar ;) bjs de...
    Cris e Lisa

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  4. Depois tem gente que acredita que precisa pagar dízimo pra ir pro céu...

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