quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Trabalho, Trabalho, Trabalho!!! Argh!


Abaixo o mundo dos workholics! Ultimamente, acho que, por não ter conseguido resolver um problema meu, tenho odiado cada vez mais aqueles que se vangloriam por trabalhar 12, 13 horas por dia! Enchem a boca para dizer que estão mortos de cansados e que estão de pé desde as 6 da manhã! Eles deveriam ter vergonha de dizer isso! Será que não veem? Comecei falando sobre a minha dificuldade, porque optei por deixar de fazer uma coisa que eu odiava para me dedicar exclusivamente ao que eu gosto e, modéstia a parte, acho que faço bem: escrever.

E se, graças a deus, eu posso fazer isso, por que não tentar? O problema é que sinto culpa e ainda tenho vergonha diante da sociedade. Uma sociedade que, apesar de todos os avanços tecnológicos, ainda vê com maus olhos o trabalho em casa ou o ócio criativo. Uma sociedade que prega o bater ponto de 9 às 18. Isso é o correto. Se não for assim, você é taxado de vagabundo. O engraçado é que todos os que te criticam por ser assim têm o maior sonho de poderem, um dia, ser iguais a você.

Eu sei de tudo isso. Racionalmente. O meu consciente fala: “Márcia, não precisa ter vergonha. Existe coisa mais bonita do que se dedicar ao que se gosta? Foda-se o que as pequenas cabeças vão pensar! Assuma-se como uma escritora! Os escritores são deliciosos, atraentes, têm uma maneira diferente de ver a vida, e a única coisa que você quer é ser igual a eles! O que há de errado?” No entanto, logo em seguida, o inconsciente fala: “Puta que pariu! O que respondo quando me perguntarem o que faço? É...sou jornalista, e estou escrevendo uma peça e refazendo um livro???? Não. Ainda não tenho coragem de dizer. Sempre acho que os outros vão pensar: ‘Sei, não faz nada, né?’”

Por esse motivo, ainda continuo respondendo que tenho um site sobre sustentabilidade e meio ambiente e que faço a parte de notícias. Sim, isso era verdade há uns 15 dias, mas já não é mais. E eu, apesar de estar super contente com a minha decisão de parar de escrever sobre aquelas coisas verdes chatíssimas, que ninguém agüenta mais ler, continuo repetindo a mesma ladainha para todo mundo, por pura falta de coragem de dizer que estou fazendo o que adoro! Isso não é coisa de maluco? É.. ah é... Mas, pelo menos, eu não estou sozinha. Descobri que faço simplesmente o que todos foram ao longo da vida adestrados a fazer, ou seja, dizer que estão numa puta empresa e que amam o trabalho, sendo que, 90% das vezes, isto é pura mentira. Ou você conhece alguém que diz com todas as letras: “Cara, eu odeio o que faço, mas não posso largar, porque preciso de dinheiro?” Isso não é interessante. Muito melhor é você fingir, às vezes até para si mesmo, que não está tão ruim assim e se sentir confortável dentro desta sociedade que diz que isso é o aceitável.

Mas aí eu pergunto: “Você fica super confortável na sociedade, identificando- se com todos os outros, será que não se perde muito mais, ganhando nesse meio? Eu acho que sim... tenho tantos exemplos... Meu tio é um deles. Trabalhou a vida inteira que nem um corno. Sim, ele conseguiu ficar milionário, apesar de ter começado como caixa de supermercado, o que deve dar um puta orgulho. Ter uma cobertura, poder viajar, comer em restaurantes bons e beber do melhor vinho. E daí? Ele perdeu completamente o crescimento dos filhos. Quando ele parou de trabalhar, encontrou três estranhos morando na casa dele. O que fazer com aquela realidade? Não houve prato caro que recuperasse o tempo perdido. Pra que tanto?

Hoje, li que o Pedro Aguinaga disse que as pessoas, geralmente, curtem a vida até os 20, trabalham até os 50 e, depois, aposentam-se. Ele fez o contrário: está pronto para trabalhar aos 60. Curtiu a vida até agora e não tem vergonha de dizer que nunca foi de muitas responsabilidades. Ele não construiu nada. Mora de aluguel, mas conquistou uma coisa muito mais preciosa: os amigos.

De que adianta se aposentar aos 50 para só então viver? As pernas já não agüentarão mais o que a cabeça se, ainda for jovem, quiser fazer. Portanto, abaixo o falso orgulho laboral! Ele não leva a nada.

Alguém diz isso pro meu inconsciente, por favor?

2 comentários:

  1. EU digo, Marcinha! Não tenha vergonha de quem vc é! Assuma sua autenticidade e se joga! Quem dera poder fazer o mesmo, sou seu fã! Hehe, mas falando sério, se te perguntarem o que vc faz diz isso mesmo: "sou escritora! Não entendeu? Eu escrevo pra vc!" Quer coisa mais linda? Te entendo perfeitamente! Tb sou absolutamente contra a vida de peão de bater ponto de segunda a sexta 9h às 18h, horário do "expediente", ARGHT! E se ainda passo pelo desgosto de fazer isso é pq todavia preciso, mas pretendo reverter este quadro em um futuro não muito distante. Pq, como vc muito bem disse, tenho o (assim eu acho) justo plano de viver como devo! Estou trabalhando nisso. Ops!

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  2. Márcia, você deve ter evoluído desde que postou este texto, pois quando lhe perguntei há uns dias o que você fazia, a resposta foi "sou jornalista e escritora". Cá entre nós: achei o máximo! Shhh, não conta para ninguém, mas se você falasse sobre o tal site sobre sustentabilidade, aí eu acharia esquisito.

    Concordo com você a respeito de aproveitar a vida. É importante curtir os outros e a si mesmo. Quem vive apenas para acumular bens e dinheiro - será que vive mesmo? Ou está esperando para começar a viver um dia? Lido com idosos e vejo tanta gente arrependida pelo que não fez...

    Como médico, penso que seja FUNDAMENTAL conhecer música, literatura, história de cinema e da arte. Não apenas porque gosto dos temas, mas porque eles enriquecem meus contatos com os outros. Médico tem que gostar de gente! No entanto, assim como você, sofro críticas até dos amigos quando digo que prefiro deixar minha sexta à noite livre para ir ao cinema e beber em boa companhia a fazer plantão ou atender um paciente novo. "Que vida mansa, hein?" Não é isso. Trabalho melhor quando minha mente está cheia da beleza que encontro na arte e no mundo. Não sou feito 100% para o trabalho. Preciso encontrar um equilíbrio.

    Enfim, simpatizei com seu texto.

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